Advogado paquistanês abre processo para a devolução do diamante Koh-i-Noor

A pedra que faz parte das jóias da Coroa britânica também foi reivindicada pela Índia.

Funeral da rainha-mãe, em 2002; o diamante faz parte da coroa sobre o caixão
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Funeral da rainha-mãe, em 2002; o diamante faz parte da coroa sobre o caixão Andrew Parsons/Reuters
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O diamante Koh-i-Noor está na coroa que foi usada pela rainha-mãe, Isabel DR

Um tribunal de Lahore aceitou abrir um processo que visa a devolução ao Paquistão de um dos mais famosos diamantes do mundo, o Koh-i-Noor, que integra os tesouros da coroa britânica. Segundo o advogado Javed Iqbal, o autor da queixa, a pedra faz parte do património material e cultural paquistanês e foi roubada, devendo ser devolvida.

Iqbal já tinha, no ano passado, apresentado uma primeira queixa, mas o tribunal rejeitara-a. À segunda tentativa, um juiz aceitou o caso e mandou abrir uma investigação.

"O Koh-i-Noor não foi adquirido legalmente", escreveu Javed Iqbal na apresentação do caso ao tribunal. "A forma como foi arrebanhado constituiu um acto ilegal, cometido à margem da lei e da ética. O que está errado não se torna certo com o passar do tempo", escreveu este advogado que, antes de avançar para o tribunal, escreveu 786 cartas a Isabel II e ao Governo de Islamabad.

A Isabel II Iqbal pediu a devolução da jóia. Ao Governo paquistanês pediu que agisse para a recuperação do Koh-i-Noor. Não obteve respostas.

Ao The Telegraph o advogado explicou que o objectivo da queixa é obrigar o Governo do seu país a pressionar Londres para que devolva um artefacto cultural que não lhe pertence. Além disso, quer deixar claro que o diamante é propriedade do Paquistão e não de outro país. O Koh-i-Noor é uma peça disputada pela Índia, que já reclamou oficialmente a sua devolução  o primeiro-ministro, David Cameron, rejeitou o pedido , o que o Paquistão ainda não fez.

Segundo este advogado paquistanês formado no Reino Unido, o diamante foi roubado ao marajá Daleep Singh, que tinha apenas 13 anos e foi coagido a ir a Londres oferecer o diamante à rainha Vitória, na sequência de uma guerra que terminou com a anexação do Punjab na Índia sob administração britânica. O Punjab seria, posteriormente, dividido entre a Índia e o Paquistão.

Não se sabe ao certo quando apareceu o diamante conhecido pelo seu nome persa, que significa "montanha de luz". Há referências que datam do século XIII e que o dão como encontrado no Andhra Pradesh, na Índia. Sabe-se que passou por muitas mãos e que o pai de Daleep Singh, o marajá Ranjit Singh, o mantinha num templo hindu.

Alberto, o marido de Vitória, mandou a pedra para a joalharia Garrard para ser lapidada e limpa de imperfeições. O diamante perdeu 42% do seu volume e passou de 186 quilates para os actuais 105. Diz-se que quando Daleep Singh viu o resultado  também ficou bastante mais brilhante do que era originalmente  ficou vários minutos sem falar. A rainha Vitória, porém, nunca o usou na sua coroa. O diamante acabaria por ser montado numa coroa que foi usada por Isabel, a mulher do duque de Iorque, quando este foi coroado rei (Jorge VI) depois de o irmão abdicar. Em 2002, quando a rainha-mãe morreu, a coroa apareceu sobre o seu caixão nas cerimónias fúnebres. Depois, recolheu à Torre de Londres, onde estão guardadas (e expostas ao público) as jóias da coroa britânica.

O processo vai começar a ser investigado pelo tribunal de Lahore e serão chamadas testemunhas. A rainha Isabel II é uma das pessoas referenciadas como declarantes, estando previsto que possa falar em seu nome um representante da Comissão Britânica em Islamabad.

O advogado, que disse pretender continuar a dedicar a sua vida à causa do Koh-i-Noor, sabe que não é através do tribunal de Lahore que o Paquistão vai recuperar o diamante. O que quer, explicou ao The Telegraph, é que o Governo de Islamabad faça o que a Índia já fez em 2010: que declare que o diamante "tem um estatuto patrimonial para o Paquistão" e o exija de volta.

 

 

 

 

 

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