A tragédia venezuelana

A inflação está acima dos 800%. Não há emprego. Os princípios da liberdade social e política não se aplicam. É a receita perfeita para o desastre.

O modelo de democracia exemplar que tanto excita a extrema-esquerda portuguesa está a morrer. A Venezuela de Nicolás Maduro, que nasceu do modelo chavista, está a atingir o zénite – tornando o país inviável e condenando a sua população.

A assustadora incompetência de Nicolas Maduro só tem paralelo na dimensão da tragédia que criou. O país vive uma catástrofe humanitária imensa: quatro em cinco lares venezuelanos estão na miséria. A inflação está acima dos 800%. Não há emprego. Os princípios da liberdade social e política não se aplicam. O país está a saque, refém de gangues de criminosos que precisam do caos para singrar. É a receita perfeita para o desastre. 

Como morreu em 2013, Hugo Chavez não assume total responsabilidade pelo descalabro do país. Mas esta é a nação construída pelo chavismo, com uma economia totalmente dependente do petróleo, uma oligarquia política que premeia a incompetência e o desrespeito absoluto pelos direitos básicos dos cidadãos. Os órgãos de soberania foram ficando reféns dos bolivaristas e o Supremo Tribunal da Venezuela é hoje uma anedota com final infeliz. Resta o exército, que poderá querer usar o caos a seu favor e tomar o poder para manter a Venezuela bem enfiada nos anos tristes da América Latina no século XX.

De Lula, Chavez só copiou mesmo o modelo corrupto, usando os mais pobres apenas como destinatários de intermináveis discursos. A duração dos discursos foi aliás um dos tiques recolhidos a Cuba, sendo que o outro foi o extermínio da oposição - de forma a manter a aparência de democracia para esconder um regime demente. 

No seu afã desesperado para manter o poder, Nicolas Maduro manteve o os ideais chavistas. Usou e abusou da violência contra os seus opositores, retirando-lhes os líderes: López foi preso e Carriles foi banido da vida política, muitos outros estão também detidos - ou mortos. Agora Maduro faz frente a uma multidão sem rosto que já pouco tem a perder e que não pode ser controlada. 

A solução para hoje foi regar o fogo com gasolina, convocando uma mega-manifestação de apoiantes que se vão confrontar com os críticos do regime. E a polícia lá estará, solícita, para proteger os apoiantes do Presidente e disparar contra todos os outros. Enquanto os protestos aumentam de intensidade nas ruas de Caracas, o risco de um banho de sangue cresce todas as noites. Lá no meio estarão 500 mil portugueses.

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