A tensão em Jerusalém Oriental

A comunidade internacional ainda está recordada da execução de um jovem palestiniano, queimado vivo por retaliação ao assassinato de três israelitas, gerando, na altura, mais uma guerra entre os dois povos, pondo fim a um período de alguma acalmia. Porém, a tensão voltou novamente à ribalta, agora a propósito das limitações que o governo israelita impôs no acesso dos muçulmanos à mesquita de Al Aqsa, situada em Jerusalem Oriental (Cidade Velha), e anexada unilateralmente por Israel, em 1967. O governo israelita colocou detetores de metais na entrada da Mesquita, motivando protestos e gerando uma onda de violência. O governo de Israel, mediante pressão da comunidade internacional, substituiu os detectores de metais por um circuito de TV, também rejeitado pelos palestinianos.

Utilizando a sua capacidade de domínio político e militar, Israel começou, paulativamente, a impor um sistema de encapsulação e de apartheid aos cidadãos muçulmanos e cristãos dos territórios ocupados, com especial relevo para Jerusalém Oriental. Este apartheid é pior do que aquele que existiu na África do Sul por se tratar de apropriação ilícita de terras. O muro separa não só israelitas de palestinianos, mas separa também, o que é mais grave, palestinianos de palestinianos.

Perante o controlo de Jerusalém Oriental, sob a segurança relativa do muro que rodeia o que resta da Margem Ocidental e os milhares de colonos que se mantêm do lado oriental do muro, protegidos por um forte dispositivo de ocupação, alguns israelitas tendem a evitar novos esforços para procurar um acordo de paz, baseado no Roteiro do Quarteto Internacional ou em negociações de boa-fé com qualquer outra base.

 O acordo relativamente ao problema da soberania sobre Jerusalém é, sem dúvida, um dos pontos das negociações mais difíceis de alcançar, em virtude de, através da história, ter sido uma cidade ocupada por judeus, cristãos e muçulmanos e ser considerada santa para as três religiões. Importa, pois, ultrapassar o estatuto mítico de Jerusalém para uma discussão racional sobre direitos e sobre a soberania. Dar a Jerusalém o estatuto de cidade internacional como, aliás, estabeleceu a ONU aquando da criação do Estado de Israel, seria o mais conveniente à comunidade mundial, por forma a que todos os povos tenham livre acesso, usufruindo da liberdade de culto e do direito a visitar e atravessar os lugares santos, sem distinção ou discriminação. Há quem, sensatamente, defenda para a Cidade Velha de Jerusalém duas soberanias e duas bandeiras, mas uma única administração conjunta.

Atendendo a que estas três religiões estão indirectamente envolvidas nesta conflito, deviam estar cientes da sua responsabilidade ética e moral, usando os seus recursos espirituais para alcançar a paz e torná-la permanente. A visita apostólica que o Papa Francisco fez à Terra Santa, nos dias 24-26 de Abril de 2014, acompanhado de um rabino e de um dignitário muçulmano, com passagens por Amâ, Belém, Televive e Jerusalém, foi uma excelente iniciativa a favor da paz. Recorde-se que, na altura, o Papa afirmou que “é preciso mais coragem para fazer a paz do que fazer a guerra”, desafiando judeus, cristãos e muçulmanos “a saírem dos seus muros e a percorrerem os caminhos da tolerância e do diálogo inter-religioso”.

O povo Palestiniano apenas pretende que lhes seja reconhecido o Estado que, a 29 de Novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU criou, ao dividir a Palestina num Estado judaico e um Estado árabe, com fronteiras bem definidas. A justeza da posição do povo palestiniano é abundantemente reconhecida pelo direito internacional. Impõe-se, portanto, a retirada de Israel para as fronteiras de 1967, como se encontra especificado na Resolução 242 da ONU, prometida pelos Acordos de Camp David e pelo Acordo de Oslo e prevista no Roteiro do Quarteto Internacional.

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