A Rússia é a grande suspeita do roubo de e-mails ao Partido Democrata

Fuga de informação prejudica a campanha de Clinton e reforça os argumentos de Donald Trump. Hackers já tinham atacado a Casa Branca e o Departamento de Estado.

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Agente de segurança no espaço onde vai decorrer a convenção do Partido Democrata que coroará Clinton. Drew Angerer/AFP

A campanha de Hillary Clinton e especialistas em ciber-segurança dizem que os hackers que atacaram os servidores do Comité Nacional do Partido Democrata e roubaram milhares de emails são os mesmos agentes patrocinados pelo Estado russo que no passado atacaram a Casa Branca e o Departamento de Estado norte-americano. A sua intenção, dizem, é prejudicar Clinton e ajudar Donald Trump nas eleições de Novembro.

“[Os] especialistas dizem-nos que actores estatais russos entraram no Comité Nacional, roubaram estes e-mails todos e estão agora a publicá-los”, afirmou no domingo Robby Mook, o chefe de campanha de Hillary Clinton, depois de divulgadas conversas entre pessoas ligadas à candidata e responsáveis democratas que sugerem que o partido — que deveria ser imparcial — tentou prejudicar Bernie Sanders nas primárias.   

“É inquietante que alguns especialistas nos estejam a dizer que isto foi conduzido pelos russos como forma de ajudar Donald Trump”, atirou ainda Mook. Na sua perspectiva, o Kremlin tem interesse em que seja o magnata do imobiliário republicano a ocupar a Casa Branca: pelas suas críticas à NATO, elogios ao estilo de governação de Vladimir Putin e vontade de reatar os laços diplomáticos com Moscovo.

As primeiras indicações de que a Rússia estaria a tentar influenciar as eleições norte-americanas — algo que, a comprovar-se, seria inédito — surgiram em Junho, quando as chefias do Partido Democrata se aperceberam de que os seus servidores privados tinham sido invadidos e a empresa de protecção que contrataram descobriu que os responsáveis eram dois grupos conhecidos das autoridades americanas: Fancy Bear e Cozy Bear.

O primeiro tem ligações ao serviço de informação do exército russo, o GRU, e o segundo ao FSB, a agência de segurança nacional. De acordo com a empresa CrowdStrike, chamada para limpar os servidores, os dois grupos agiam separadamente e pareciam desconhecer as operações de um e de outro. Algo comum, como escreve o Washington Post, visto que ambos operam com grande liberdade e estão fora das estruturas tradicionais de poder.

O Kremlin e a campanha de Donald Trump negam qualquer envolvimento — ou aliança — no caso dos e-mails roubados. A fuga de informação, porém, a poucos dias da convenção que nomeará Clinton como a candidata democrata à Casa Branca, dá força aos argumentos de Trump e de muitos apoiantes de Bernie Sanders, segundo quem o Partido Democrata é uma organização elitista, pouco transparente e corrupta. A presidente do Comité Nacional Democrata, Debbie Wasserman Schultz, já anunciou a sua demissão.

O Washington Post refere também que alguns analistas de ciber-segurança duvidam da ligação entre este ataque e o Kremlin, apesar da sua sofisticação e do facto de os e-mails publicados na sexta-feira pela Wikileaks terem passado por computadores em língua russa. Na véspera da sua publicação, aliás, os responsáveis das principais agências de defesa norte-americanas participaram numa reunião de emergência na Casa Branca para discutirem o ataque aos servidores democratas.  

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