A ordem mundial do Ocidente não voltará

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Tranquilize-se o leitor. Henry Kissinger não se encontrou esta semana com Vladimir Putin. O tema é que é actual e tem algo que ver com Putin: “Dear Henry”, 91 anos, publica mais um livro — World Order — a explicar que a geopolítica que ele teorizou e praticou desapareceu da face da terra. “Está em crise o conceito subjacente à era geopolítica moderna. (...) A procura da ordem do mundo foi durante longo tempo quase exclusivamente definida por conceitos das sociedades ocidentais.” É isto que acabou. 

O livro será posto à venda na terça-feira. O tema da “nova ordem mundial” suscitou nos últimos anos centenas de ensaios e milhares de debates. O mais influente estratego americano não quis deixar de passar a certidão de óbito à sua velha ordem. Fez um resumo do livro no Wall Street Journal

Passa em revista os factores da desordem e os desafios da América, Europa e Ásia. Frisa um ponto: a partir de 1948, nasceu “uma ordem mundial composta por uma amálgama do idealismo americano e das tradicionais concepções europeias no relativo à soberania dos Estados e ao equilíbrio de poder”.

No entanto, “vastas regiões do mundo nunca partilharam e apenas se resignaram à concepção ocidental de ordem. Estas reservas estão a tornar-se explícitas, por exemplo, na Ucrânia e no Mar da China do Sul. A ordem estabelecida e proclamada pelo Ocidente encontra-se numa viragem”. As instituições multilaterais já não funcionam. “A busca contemporânea da ordem do mundo necessitará de uma estratégia coerente para estabelecer um conceito de ordem dentro das diferentes regiões e ligar entre si as ordens regionais. O triunfo de um movimento radical para impor ordem numa região pode lançar a tempestade dentro de todas as outras.”

Que propõe? “Um mecanismo eficaz para as grandes potências se consultarem e adoptarem medidas de colaboração sobre os problemas mais urgentes e dramáticos.” Um “directório” multipolar para suster o caos? 

Dá um conselho aos americanos: “A celebração dos princípios universais deve ser articulada com o reconhecimento da realidade, das histórias, das culturas, das visões e da segurança das outras regiões.” Exporta-se a democracia? Ele não diz.

Em 2009, Kissinger augurou que Barack Obama poderia liderar a construção de uma nova ordem mundial. Hoje, Obama constata que deixou de haver regras comuns, que as do pós-Guerra Fria já não funcionam e que ninguém está à altura de impor outras, enquanto todo o mundo se vira para Washington a pedir acção. 

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Encontro entre Vladimir Putin e o antigo secretário de Estado e Nobel da Paz Henry Kissinger, Moscovo, 2012 Ria Novosti/Reuters

A grande desordem do mundo é o assunto do dia. Esperemos o livro. Aprende-se sempre com “Dear Henry”.

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