A missão mais difícil do mundo

O melhor de todos nós, nas palavras do amigo e Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, vai ser hoje escolhido para a missão mais difícil do mundo. Esta é a hora, portanto, de lhe desejar toda a sorte do mundo. Mas é sobretudo a hora de dizer como todos ganhamos com esta vitória. Não digo nós, portugueses. Digo todos.

Todos ganhamos porque o processo de escolha abriu uma nova era nas Nações Unidas. A escolha de António Guterres foi a mais transparente de sempre. Foi rápida. Foi clara. E até legitimada por uma candidatura de última hora que chumbou logo na sua primeira ida a votos (com oito votos contra, dois dos quais vindos dos cinco que compõem o Conselho de Segurança). O processo avançou ontem, aliás, com 13 votos a favor do português, sem votos contra, sem vetos de qualquer dos cinco mais poderosos. Pode dizer-se, portanto, que Guterres teve uma vitória cristalina. E isso dá-lhe espaço para um bom começo.

Mas ganhamos todos, também, porque foi escolhido o melhor. Não a mulher, não por critério geográfico. Mas por reconhecimento.

António Guterres não chegou agora à ONU, está por lá há muitos anos. No cargo de alto-comissário correu os piores cenários, os mais difíceis territórios. Carregou consigo a grande responsabilidade de ajudar os refugiados sem ter o poder de mediar os conflitos. A partir de Janeiro será muito diferente: terá a responsabilidade toda do seu lado, mas com um poder inversamente proporcional ao título que conquistou.

Guterres será um capacete azul no olho de um enorme ciclone. Terá pela frente conflitos quase insanáveis, com consequências devastadoras que ultrapassam fronteiras. Terá pela frente um mundo com uma economia anémica, embora cada vez mais globalizada. Terá de contar com líderes populistas (veremos o que acontece também nos EUA). E com um mundo muito polarizado, mas onde as superpotências ainda contam.

Na ONU, a herança também não é a melhor. Como escrevia ontem Miguel Monjardino, os membros do Conselho de Segurança parecem mais interessados em ter um secretário do que um secretário-geral à frente da organização.

Não, a missão de António Guterres não é fácil. Mas é fácil dizer, depois da votação de ontem, que Guterres garantiu um bom princípio de conversa. Não lhe faltam as qualidades, não lhe falta a capacidade, tão-pouco a experiência. Nem lhe faltaram os votos dos que contam.

Para o mundo, Guterres pode ser a esperança de que a Organização das Nações Unidas se reerga e recupere o papel central que deve ter. Para nós, portugueses, soma-se uma só palavra, que dirá mais do que mil imagens: orgulho.

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