A maldade

Será ódio? Será vontade de matar quem se odeia? É horrendo descobrir do que é capaz o ser humano.

Não pergunto o que leva alguém a fazer o que se fez em Barcelona. Há muitas respostas que poderão ser dadas. Algumas já terão sido ensaiadas e publicadas pelos cúmplices dos assassinos. Os assassinatos ocorreram precisamente para poder invocar essas respostas, essas causas, essas identificações. Estamos literalmente fartos de ouvi-las.

O que eu pergunto é como é que um ser humano é capaz de continuar ao volante depois de ter atropelado tanta gente só para poder tentar matar e estropiar mais pessoas?

Será ódio? Será vontade de matar quem se odeia? É horrendo descobrir do que é capaz o ser humano. Chamamos maldade àquilo que não compreendemos. E é maldade. O que horroriza é ser uma maldade humana.

Os assassinos podem sempre dizer que assassinaram em nome de outras pessoas. Podem dizer que foram levados a matar pelas convicções, por estarem em guerra, por solidariedade. Podem dizer que se sacrificaram, que estavam a cumprir ordens, que foi o amor por Deus ou o desejo da glória ou do paraíso.

Mas a pergunta que fazemos é mais simples: como é que alguém foi capaz de fazer aquela maldade particular? Uma coisa é explicar ou aplaudir a maldade. Outra é fazê-la. Mesmo dar uma ordem para matar o maior número possível de pessoas, uma a uma, é diferente de estar ali ao volante, carregando no acelerador e ziguezagueando para apanhar mais pessoas.

É preciso ser-se mau. Há maldades que só os maus fazem. É o caso. Dizer que aquele assassino não é humano é desculpá-lo - e ele não tem desculpa.

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