A História me encurtará os discursos

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Isto estava a andar de uma maneira, camaradas, que só podia correr de outra forma, pois, como sabeis, se queremos pensar num mundo melhor, temos de nos preparar para o pior. E os ianques nunca nos desiludem no pior, mesmo quando os lobos vêm com falas de cordeiro, mas já lá vamos. Uma vez disse-vos que tinha descoberto, talvez tarde demais, que os discursos devem ser curtos. Nasci a 13 de Agosto de 1928, como as crianças sabem, até porque a data faz parte dos currículos do pequeno país do Caribe que não tem analfabetos, ao contrário de várias nações fantoches dos Estados Unidos que ainda nos rodeiam, rendidas ao poder do dólar e da exploração do homem pelo homem.

Mas, como dizia, quanto ao tamanho dos meus discursos, experimentem estar sete horas de pé a falar a uma multidão sem ir à casa de banho, isto é, experimentem fazê-lo se quiserem, mas sem dizerem mal do nosso partido ou estamos mal e acabarão por passar outras tantas horas de pé na esquadra mais próxima. E um total de 14 horas já faz dores nos calcanhares, é como marchar no mato depois de um ataque às tropas, que o diga José Martí, que fez o mesmo contra os espanhóis, muitas décadas antes de mim. A revolução não é um mar de rosas, é uma luta de morte entre o futuro e o passado e eu cá sigo o sendero, com esta bandeira no rosto, esta barba cheia de significados para o povo cubano desde que desembarcámos — um punhado de idealistas e heróis (tantos tombados) no velho iate Granma —, de onde subimos à Sierra Maestra para só descermos para quebrar as grilhetas e acabar com a ditadura de Fulgencio Batista, em 1959: é aquela cena do Padrinho II em que generais e industriais e amantes fogem como cucarachas do baile de fim do ano, e com o Freddy Corleone a comportar-se como um “refugiado” de Miami capaz de trair o próprio irmão, o Al Pacino, que já percebera que a nossa luta era a sério, aliás, a cena do filme em que um revolucionário morre pela revolução com uma granada contra os militares tem alegrado os meus 88 anos já um pouco cansados, por isso deixei a presidência em 2006 e os cargos no partido em 2011, e agora me dedico a estas raras análises de política mundial cheias de números e de datas, por exemplo sabiam que vários países, sobretudo os pequenos da África, do Caribe e da América Central, perderam através da migração de cérebros mais de 30 por cento da sua população com nível superior de instrução, levados pelo sistema capitalista e o seu colossal consumismo?

O regime ditatorial de Fulgencio Batista foi apoiado, nunca o poderemos esquecer, nunca, em nome do Che, em nome de Camilo Cienfuegos, pela clique monopolista dos nossos vizinhos do Norte e dos delinquentes que se dizem cubanos e estão instalados em Miami com saudades de um bom rum e um bom charuto, os gordos burgueses. E mesmo os exilados bons só podem mandar divisas em dinheiro escondido para não deixarem marcas documentais que os submetam à perseguição das autoridades norte-americanas e às acções violentas de terroristas residentes em Miami.

Bom, era aqui que pretendíamos chegar neste curto discurso. Andámos um pouco iludidos, há dias, com o reatamento das relações diplomáticas entre a Cuba fraterna e bolivariana e os Estados Unidos da América Imperialista de Guantánamo. Foi uma pequena porta aberta para o fim do criminoso embargo económico que durante mais de cinco décadas tentou, debalde, asfixiar a nossa revolução e as nossas conquistas sociais e científicas. Enfim, trocar três honestos cidadãos cubanos por um biltre espião americano infiltrado foi ideia do meu mano Raul, do Papa Francisco e desse “honrado” Presidente Obama, nobel da Paz, que, é preciso não esquecer, se tem entretido a semear, como sempre, contra-revoluções e sangrentos conflitos desde a Síria à Palestina, do Iraque aos nossos irmãos venezuelanos (desde o desaparecimento físico do querido amigo Hugo Chávez). E as multinacionais ao serviço do capital continuam a delapidar os recursos energéticos que deveriam ser de todos, porque os ricos comem cada vez mais e os pobres passam fome, até porque a população mundial duplicou desde que eu e os companheiros arriscámos (tantos tombados) a vida no ataque ao quartel de Moncada, esse glorioso dia de 1953 que correu mal para depois correr bem, porque a revolução era imparável. E depois os ianques bem me tentaram matar com invasões e venenos falhados, mas eu não como qualquer coisa, aliás em Cuba quase ninguém come devido ao criminoso embargo. Dizem os meios de comunicação do Ocidente ao serviço de interesses capitalistas que, quando o embargo acabar, o regime vai “abrir”. Abrir o quê, as portas ao McDonald’s? Faz mal à barriga, o doutor diz que não posso comer essas coisas.

Entretanto, Obama já mostrou de novo o que vale e atreveu-se a dizer que Vladimir Putin foi “pouco esperto” quando anexou a Crimeia e que agora a Rússia está a pagá-las com a queda do petróleo. Mas quem é que este Obama pensa que é para dar lições de moral a alguém?! Esta mania de superioridade dos americanos põe-me piurso. Toda a gente honesta vê que eu tenho razão e que, com a firmeza e serenidade de sempre, o nosso povo heróico lutará e vencerá perante um inimigo poderoso, mas ruim e covarde.

Bom, uma palavra de apreço para Portugal e para o ex-primeiro-ministro José Sócrates, grande amigo das repúblicas bolivarianas, como a Venezuela, e que está na prisão impedido de dar entrevistas, o que mostra como o sistema de justiça neoliberal cala as pessoas. Mandei-lhe o meu livro A História me Absolverá para ele animar, mas a obra foi-me devolvida pelos serviços prisionais. Está tudo dito. Acabem com o embargo!

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