A história do funeral em que ninguém conhecia o morto

Centenas de pessoas responderam ao apelo para comparecerem ao funeral de um veterano britânico da Segunda Guerra Mundial que quase não tinha família.

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Funeral do veterano Harold Percival teve direito a uma pequena marcha militar Paul Ellis/AFP

Harold Percival é um nome que nada dirá à esmagadora maioria das pessoas, mas centenas de pessoas suportaram uma fria e chuvosa manhã durante o seu funeral, nesta segunda-feira, apesar de nunca o terem conhecido. Sem filhos ou mulher, apenas com alguns familiares distantes, o funeral de Harold, que morreu aos 99 anos, seria pacato e anónimo. Como o próprio foi em vida. Mas há um pormenor: Harold Percival foi um piloto da RAF (Força Aérea Britânica) durante a Segunda Guerra Mundial. E isso fez toda a diferença.

Os últimos anos de vida de Percival foram passados na tranquilidade do lar de idosos em Lytham St. Annes, perto de Blackpool, na costa ocidental do Reino Unido. Sabendo da sua história, os directores da casa funerária e as responsáveis do lar recearam que o funeral do veterano não tivesse praticamente ninguém. Resolveram então lançar um apelo nas redes sociais e nos jornais para que as pessoas comparecessem no seu funeral.

O poder viral das redes sociais é bem conhecido, mas ninguém esperava o que veio a suceder na manhã desta segunda-feira. À porta do Crematório de Lytham estavam centenas de pessoas, vindas de várias partes do Reino Unido para prestar homenagem a um homem que nunca conheceram. A BBC estima que 100 pessoas estiveram dentro do crematório e cerca de 400 permaneceram no jardim circundante, apesar da chuva.

Visivelmente emocionado, Andrew Colyer-Worrsall, sobrinho de Percival, dizia à BBC que o número de pessoas era “formidável”. “Pensámos que apenas estaríamos uns dois ou três, portanto ver tantas centenas de pessoas a aparecer é fantástico”, afirmou.

Esperava-se que fosse tão pouca gente ao funeral de Harold Percival que os directores funerários tinham previsto que os carregadores de caixão tivessem de ficar para a cerimónia fúnebre para fazer número, revela o The Guardian.

As respostas ao apelo lançado bateram todas as expectativas. Lorraine Holt, uma das responsáveis do lar de idosos, contou à BBC que foi contactada por um soldado que estava de licença do Afeganistão e que queria assistir à cerimónia. “Depois, uma senhora de 80 anos que serviu na RAF ligou-nos a dizer que vinha. A resposta foi absolutamente incrível”, sublinhou Lorraine Holt.

A coincidência com o Dia do Armistício da Primeira Guerra Mundial tornou o funeral de Percival ainda mais emotivo. Às 11 horas da manhã do dia 11 do 11 (hora e data da assinatura que pôs fim à Primeira Guerra) foi tocada a Dambusters March – o próprio Percival fez parte do célebre esquadrão da RAF – e observaram-se os dois minutos de silêncio em homenagem à data.

Harold Percival é descrito pela família como “um homem discreto”. “Ele estaria escondido atrás de um canto neste momento”, brincava o seu sobrinho, sublinhando que ele não foi nenhum herói. “Ele era um velho soldado, não um herói: apenas um veterano que cumpriu o seu dever”.

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