Trump arrisca guerra com a China se bloquear acesso a ilhas do Mar do Sul

Os nomeados para diplomacia e defesa na Administração Trump reiteram postura de confronto em relação a Pequim. Jornais estatais chineses falam em "guerra de larga escala".

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Porta-aviões chinês patrulha Mar do Sul Reuters/© China Stringer Network / Reut

A próxima Administração norte-americana parece não ter dúvidas: a China será o grande rival dos EUA nos próximos anos. O Presidente eleito, Donald Trump, nunca o escondeu, mas os homens que escolheu para chefiarem a diplomacia e defesa reforçaram essa posição. Em Pequim, pede-se calma e insiste-se na “cooperação”, mas também se fazem avisos sérios.

As audiências no Senado das figuras nomeadas para o próximo Executivo norte-americano têm revelado um desfasamento entre as opiniões dos futuros governantes e aquelas que Trump tem defendido. O futuro secretário de Estado, Rex Tillerson, disse, por exemplo, apoiar a manutenção de sanções contra a Rússia – contrariando a aproximação favorecida pelo Presidente eleito.

A coerência mantém-se, no entanto, no que respeita à China. Tillerson reservou palavras duras em relação a Pequim, condenando a acção chinesa sobre o Mar do Sul. “Temos de enviar à China um sinal claro de que, primeiro, a construção de ilhas deve parar e, segundo, o vosso acesso a essas ilhas não vai ser permitido”, disse na quarta-feira, perante os senadores que têm que aprovar a sua nomeação.

O aviso do futuro chefe da diplomacia de Washington dirige-se à política chinesa de construção de ilhas artificiais no Mar do Sul da China. As reivindicações territoriais de Pequim – que se estendem à quase totalidade dos 3,5 milhões de quilómetros quadrados daquele mar – colidem com as pretensões de vários países da região, a maioria dos quais aliados dos EUA. A estratégia da China para garantir a posse efectiva destes territórios tem passado pelo desenvolvimento de ilhas artificiais em pequenos rochedos e recifes, tanto com fins civis como militares – o mesmo tem sido feito por outros países, tal como o Vietname ou as Filipinas, embora em menor extensão.

A situação no Mar do Sul também foi abordada pelo nomeado para a pasta da Defesa, James Mattis, que na sua audiência no Senado escolheu a China como uma das três ameaças à ordem mundial – a par da Rússia e dos grupos terroristas.

As declarações de Tillerson foram recebidas com a cautela tradicional de Pequim. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Lu Kang, disse esta sexta-feira que as relações entre os dois países se baseiam no “não-confronto, não-conflito, benefício mútuo e cooperação positiva”.

Os media estatais – um canal frequentemente escolhido para que a real posição do Governo chinês seja conhecida, face à linguagem mais contida dos comunicados oficiais – escolheram palavras mais duras para comentar a posição de Tillerson. O Global Times disse que a intenção de negar o acesso da China às ilhas disputadas é a “posição mais radical dos EUA até ao momento”. “A não ser que Washington planeie lançar uma guerra em larga escala no Mar do Sul da China, quaisquer outras abordagens para impedir o acesso da China às ilhas será ridículo”, acrescenta o editorial.

No China Daily, as declarações de Tillerson não são consideradas sérias, uma vez que são uma “confusão de ingenuidade, visão de curto prazo, ideias preconcebidas e fantasias políticas irreais”.

A actual Administração americana, de Barack Obama, tem condenado a acção de Pequim no Mar do Sul da China, que considera uma ameaça à “liberdade de navegação”. A Marinha norte-americana tem intensificado as patrulhas na região, bem como os exercícios militares com os seus aliados. Em Dezembro, um navio chinês apreendeu um drone subaquático dos EUA, abrindo uma pequena polémica diplomática, na qual Trump também participou.

Antes disso, o Presidente eleito falou ao telefone com a presidente de Taiwan, rompendo com uma prática diplomática estabelecida no princípio “uma só China” – os EUA não reconhecem oficialmente Taiwan, mas mantêm canais diplomáticos abertos. Trump tem ainda criticado amplamente a conduta económica da China, que acusa de manipular artificialmente a sua moeda para concorrer de forma “desleal” com as exportações norte-americanas. A escolha de Peter Navarro, um grande crítico das políticas económicas chinesas, para um cargo na Administração sugere que Trump pode mesmo vir a travar uma “guerra comercial” com segunda potência mundial.

 

 

 

 

 

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