“A França tem valores”, dizem rivais a Valls por causa dos imigrantes

O ex-primeiro-ministro, com a difícil tarefa de defender um governo impopular, foi atacado pelos principais rivais e ouviu que “os franceses são mais generosos do que os seus dirigentes”.

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Jean-Luc Bennahmias, Vincent Peillon e Manuel Valls Bertrand Guay/REUTERS

Uma semana antes da primeira volta das eleições primárias da esquerda francesa, os candidatos voltaram a juntar-se para mais um debate “todos contra Manuel Valls”, o (ainda) favorito para defrontar Marine Le Pen e François Fillon nas presidenciais de Abril. Os comentadores são unânimes em descrever uma troca de palavras mais acesa e menos monótona do que a primeira conversa a sete, três dias antes, com Valls a fracassar, desta feita, na tarefa de se esquivar aos ataques dos adversários.

“Manuel Valls, praticar os seus valores, fazê-los viver, nomeadamente no que respeita aos imigrantes e aos refugiados, não é mais do que a honra da França”, disse ao alvo de todos Benoît Hamon, nas mensagens individuais destinadas a abrir as duas horas e meia do embate transmitido em três canais de televisão privados.

Hamon é o ex-ministro da Educação que morde os calcanhares ao homem que se demitiu da chefia do Governo para concorrer a estas primárias – de acordo com uma sondagem (Kantar Sofres OnePoint), Hamon pode ficar em segundo na primeira votação (dia 22) e empatar com Valls na segunda volta, marcada para 29 de Janeiro.

Como no primeiro debate, mas de forma mais enfática e eficiente, os rivais de Valls sublinharam as diferenças entre o que este diz agora e o que fez enquanto primeiro-ministro, assim como as suas posições muito mais afastadas da esquerda do PS do que as dos restantes candidatos. Para além de Hamon, estão em jogo Arnaud Montebourg (a mesma sondagem diz que se o homem que foi ministro da Indústria até Agosto de 2014 passar à segunda deixará Valls para trás), Vincent Peillon, Jean-Luc Bennahmias, Sylvia Pinel e François de Rugy.

“A vida não é um quadro mágico”, atirou Peillon, esgrimindo argumentos sobre o seu “desacordo profundo” com as restrições impostas durante o mandato do Presidente François Hollande no acolhimento de imigrantes. “Tenho a sensação que os franceses são mais generosos do que os seus dirigentes”, insistiu.

Portugal e a cannabis

Para além da imigração – um dos temas naturalmente mais importantes nestas eleições, tendo em conta as posições da extrema-direita de Le Pen, favorita nos inquéritos que antecipam as presidenciais –, que foi o tema central da noite de domingo, como a lei do trabalho e o rendimento universal tinham dominado o primeiro debate, discutiu-se a liberalização do consumo e posse de cannabis (com o exemplo português a gerar alguma confusão, entre a legalização defendida por parte dos candidatos, e a despenalização efectivamente em vigor em Portugal) e a energia nuclear.

Hamon, Pinel e Bennahmias são favoráveis à legalização do consumo; Peillon não se pronuncia; Valls defende que “os interditos são tão necessários na sociedade como as liberdades; se legalizarmos, haverá cannabis mais puro, que até agora era cortado [misturado com outras substâncias para diminuir o grau de pureza], e que alimentará outros tráficos”.

Sylvia Pinel, antiga responsável da pasta da Habitação, trata a questão como “um problema de saúde pública”, como Hamon defende que “a proibição é absolutamente ineficaz” e que “a repressão conduziu a desordens ligadas ao tráfico”, enquanto Bennahmias, fundador da Frente Democrática, que reconhece fumar de vez em quando, condena o que chama “40 anos de hipocrisia”.

Mas o debate, o penúltimo antes da primeira votação, nunca se afastou muito da imigração, com Hamon a marcar a conversa com a proposta de um visto humanitário para os refugiados e os seus ataques a Valls. Com esta medida, estabelecer-se-iam vias de entrada legal na Europa e começar-se-ia a pôr fim à tragédia do Mediterrâneo, onde 5000 vidas se perderam ao longo de 2016.

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