A crise grega em números

No sétimo ano de crise, a Grécia continua a impor medidas de austeridade: na semana passada, foi aprovado o 14º corte nas pensões de reforma desde o início da crise.

Foto
Distribuição de alimentos pela organização Theofilos, que ajuda famílias numerosas Alkis Konstantinidis/REUTERS

Empréstimo após empréstimo, austeridade em cima de austeridade, os resultados tardam: a dívida pública não pára de subir, o desemprego não desce, a pobreza não diminui.

25% de contracção económica

A crise grega é difícil de descrever porque não há muitos termos de comparação: é a maior recessão económica num país desenvolvido. Ultrapassou até a Grande Depressão nos EUA. Em sete anos, a economia diminuiu 25%. E apesar de três programas de empréstimos internacionais, todos com uma série de medidas exigidas, o rácio da dívida em comparação com o PIB, que em 2000 era de 100%, não diminuiu com as medidas de austeridade e é hoje de 179%, segundo a Reuters (a segunda maior no mundo a seguir ao Japão).

5% do empréstimo foi para o orçamento grego

Menos de 5% das verbas que a Grécia recebeu nos vários programas de empréstimo – ou seja, menos de 10 mil milhões de euros – foi para o orçamento grego, segundo um estudo da Universidade ESMT de Berlim. A grande maioria dos 216 mil milhões de euros dos dois primeiros programas foi para os credores – sobretudo bancos –, sob forma do pagamento de dívida e de juros da dívida.

Reformados perdem 65% do rendimento

A perda acumulada para os reformados gregos nos anos da crise atinge 40% a 65%, depois de terem entrado em vigor novas medidas na semana passada. As pensões já foram cortadas 14 vezes desde o início das medidas de austeridade. A pensão mínima é de 486 euros. A Grécia é o país da UE em que o Estado mais gasta em pensões (17% do PIB, a média europeia é 12%), mas este rendimento é muitas vezes o substituto para a falta de outros subsídios sociais, como o de desemprego. Segundo um inquérito de Janeiro de uma confederação de pequenas empresas, 52% das famílias gregas estão dependentes de uma ou duas pensões.

44 greves gerais em sete anos

As medidas de austeridade agora aprovadas, que serão aplicadas entre 2019 e 2020, foram recebidas com protestos, incluindo manifestações em Atenas e uma greve geral, que foi a 44ª desde Março de 2010.

Desemprego: 23,5%, a maioria de longa duração

A taxa de desemprego (23,5%) é de longe a maior da União Europeia: o segundo país do bloco com mais desemprego é Espanha com 18%, enquanto a média europeia é de apenas 8%. A maioria – mais de 70% – são desempregados de longa duração, o que quer dizer que são deixados sem qualquer apoio social. O subsídio de desemprego acaba passado um ano. O desemprego jovem é de 48%.

427 mil emigrantes

Cerca de 427 mil gregos saíram do país desde o início da crise, em 2008. Segundo um relatório do Banco da Grécia, a maioria são jovens licenciados . Entre os que saíram estão, por exemplo, 17200 médicos, o que deixa alguns hospitais com falta de clínicos. Os principais destinos são Alemanha, Reino Unido, e Emirados Árabes Unidos.

1/3 de pobreza

Mais de um em cada três gregos vivem em situação de pobreza, e a Grécia é um dos três países da UE com uma maior taxa de pobreza. Segundo a UNICEF, as crianças são das mais afectadas, e 45% dos menores gregos vivem em pobreza. A Grécia foi ainda o país em que este indicador mais aumentou: uma diferença de 40% entre 2008 e 2016, segundo um estudo do Instituto para Investigação Económica de Colónia (IWD).

Mais de 40% não consegue pagar electricidade

Contas da luz em atraso são uma realidade para mais de 40% dos gregos – é um número mais alto do que em qualquer outro país da Europa, segundo a agência Reuters. Muitos gregos recorrem ainda a medidas para obter electricidade ilegalmente, com equipas organizadas para fazer puxadas de fios dos vizinhos ou modificar os contadores. Uma fonte da empresa pública de electricidade disse à Reuters que o roubo de energia custa entre 500 a 600 milhões de euros em receitas perdidas à companhia. No ano passado houve 10.600 casos confirmados de roubo de electricidade, mas o número real será muito mais alto.

Controlo de capitais: 400 euros por semana

Por semana é o que cada grego pode levantar. O controlo de capitais está em vigor desde Julho de 2016, e embora tenha sido ligeiramente suavizado continua a ter efeitos na vida de muitos gregos e na economia. As transferências para o estrangeiro são também limitadas, e as empresas que têm de fazer importações queixam-se. Também várias empresas disseram num estudo do Banco Nacional da Grécia do final do ano passado, citado pelo diário Kathimerini que adiaram investimentos por não conseguirem ter suficientes verbas disponíveis.

Carga fiscal: 23% para casal com filhos

Entre as novas medidas aprovadas na semana passada está a descida do escalão de rendimentos não sujeitos a impostos: era de 8600 mas agora quem ganhar mais do que 5600 euros terá de pagar IRS. A carga fiscal na Grécia é uma das maiores entre os 35 países da OECD (Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento), e os casais com filhos são especialmente penalizados. Segundo dados de 2016, 23% do rendimento de um casal com dois filhos em que um dos cônjuges trabalhe vai para Estado, sob forma de impostos e contribuições para a segurança social.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários