A ameaça islamista voltou-se para o futebol europeu

As autoridades alemãs detiveram um suspeito, com ligações a “círculos islamistas”, de ter sido um dos autores do ataque ao autocarro do Borussia Dortmund.

Foto
Foi enviado um forte contingente policial para o jogo entre o Borussia Dortmund e o Mónaco EPA/SASCHA STEINBACH

Nas imediações do estádio Signal Iduna Park, o ambiente esta quarta-feira era singular. Centenas de agentes patrulhavam um largo perímetro em torno do recinto e os adeptos tinham sido aconselhados a não trazerem consigo malas ou mochilas. Mas ao lado de polícias fortemente armados, viam-se adeptos do Borussia Dortmund e do Mónaco de braço dado, num ambiente de confraternização pouco habitual em estádios de futebol. Foram vários os adeptos alemães a receberem apoiantes monegascos em suas casas depois do adiamento do jogo da Liga dos Campeões na véspera e a mensagem que queriam mostrar é já um mantra comum após os atentados terroristas que têm atingido a Europa – “não teremos medo.”

Mas, mais de 24 horas depois das três explosões que atingiram o autocarro que transportava a equipa do Borussia Dortmund para o seu estádio na terça-feira ao fim da tarde, para o jogo dos quartos-de-final da Champions, eram sobretudo as interrogações, mais do que as certezas, que dominavam. Foi detido um suspeito com ligações islamistas, mas a polícia manteve a cautela durante todo o dia e não quis identificar qualquer motivação por trás do ataque.

A investigação passou para a alçada das autoridades federais que confirmaram que o ataque teve uma “motivação terrorista”. A porta-voz do procurador federal, Frauke Köhler, disse aos jornalistas que há a possibilidade de o ataque ter tido uma inspiração islamista, mas não foi dada qualquer certeza.

Ao início do dia eram principalmente duas as linhas de investigação seguidas pela polícia. A “pista islamista” apoiava-se em três cartas encontradas perto do local das explosões, que, de acordo com o jornal Suddeutsche Zeitung, incluíam a expressão “em nome de Alá” e tinham referências aos caças Tornado da Força Aérea alemã que apoiam a coligação internacional que está a intervir na Síria e no Iraque. Era exigido o fim da participação da Alemanha nos bombardeamentos e o encerramento da base aérea norte-americana de Ramstein.

A polícia revistou as casas de dois suspeitos provenientes “dos círculos islamistas”, segundo os investigadores, detendo preventivamente um deles. Não foram dados mais pormenores quanto à sua identidade.

Uma segunda tese apontava para a autoria do ataque por um grupo “anti-fascista”, depois de ter sido descoberta uma mensagem que circulou pela Internet em que o atentado era reivindicado. Segundo a imprensa alemã, o ataque teria sido motivado pela “fraca resposta” que a direcção do Borussia Dortmund teve em relação aos actos das claques conotadas com a extrema-direita recentemente. A porta-voz da procuradoria afirmou, no entanto, que existem “sérias dúvidas em relação à autenticidade” da reivindicação.

A BBC dizia que também seria possível que tivessem sido os próprios grupos de extrema-direita a estar por trás do atentado, em resposta às recentes medidas tomadas pelo clube, que impediu alguns adeptos de entrarem no estádio, mas a polícia não deu qualquer indicação de estar a explorar esta possibilidade.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse estar “chocada” com o ataque que considerou “horrível”. Para além do jogo de Dortmund, a UEFA aumentou o dispositivo de segurança nos restantes desafios de quarta-feira, disputados em Munique (Bayern-Real Madrid) e em Madrid (Atlético-Leicester).

As três explosões não tiveram um impacte de grandes dimensões. Apenas um jogador do Dortmund, Marc Batra, ficou ferido com estilhaços do vidro das janelas e teve de ser operado ao pulso.

A Alemanha tem estado na mira das redes jihadistas internacionais. Quatro meses antes, a 19 de Dezembro, um camião atropelou de forma propositada dezenas de pessoas que se encontravam num mercado de Natal em Berlim, matando 12 e ferindo mais de 50. O ataque foi reivindicado pelo grupo radical islâmico Daesh como retaliação pela participação alemã na coligação internacional que tem bombardeado posições do grupo na Síria e no Iraque.

O jogo entre o Borussia Dortmund e o Mónaco decorreu sem problemas, embora no final tenham sido localizados “objectos suspeitos” no estádio. Entretanto, o país continua em suspenso. “Temos de assumir que permanece um perigo iminente”, declarou o ministro do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, Ralf Jäger.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários