Adolescente afegão que atacou comboio na Alemanha tinha bandeira do EI

As autoridades não revelaram a identidade do rapaz de 17 anos que usou uma faca e um machado. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico

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KARL-JOSEF HILDENBRAND/AFP

Ainda estão por apurar as razões que levaram um refugiado afegão de 17 anos a entrar num comboio no Sul da Alemanha com um machado e uma faca e atacado as pessoas que seguiam na carruagem. Sabe-se que tinha uma bandeira do Estado Islâmico no seu quarto, dizem que gritou o nome de Alá durante o ataque, mas desconhece-se se pertencia ao Daesh, que se apressou a reivindicar a operação, ou a qualquer outro grupo radical. Dos quatro feridos graves que deixou antes de ser abatido pela polícia, dois estão ainda em estado crítico.

“O autor do ataque com arma branca na Alemanha é um dos combatentes do Estado Islâmico e lançou esta operação em resposta aos apelos para atacar os países da coligação [dirigida por Washington] que combate o EI”, na Síria e no Iraque, afirma a agência Amaq, ligada ao grupo.

Mas o ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, levantou mais interrogações quando se dirigiu aos jornalistas. “Estamos cientes de que o Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade do ataque… mas até agora a investigação não produziu nenhuma prova de que este jovem fazia parte de uma rede islamista”, cita a Reuters.

Horas antes, o mesmo responsável dava conta à televisão pública ZDF de que “nas buscas feitas ao quarto onde vivia [perto da cidade de Ochsenfurt] foi encontrada uma bandeira do EI fabricada artesanalmente”, e, segundo a Reuters, também um texto em pashtun (língua afegã) com referências ao islão e à “necessidade de resistir”. Segundo algumas testemunhas, o rapaz gritou “Allahu Akbar” (“Deus é maior”) durante o ataque.

Mas Herrmann apela à prudência. “Todas as peças têm de ser reunidas num grande mosaico para sabermos quais foram as suas motivações, e até que ponto pode ser considerado um islamista, ou até que ponto se radicalizou recentemente”, declarou. “Estamos a analisar todas as provas”.

Pessoas que conheciam o adolescente afirmaram aos investigadores que era “tranquilo e equilibrado, e que ia à mesquita nos dias importantes mas não necessariamente todas as semanas”, avançou o ministro. “Era um muçulmano devoto, mas de nenhuma forma radical ou fanático”.

Segundo as autoridades, o adolescente chegou à Alemanha há dois anos, como menor não acompanhado. Estava a viver com uma família de acolhimento, depois de ter passado por um centro de refugiados na cidade. 

O ataque aconteceu cerca das 21h15 (menos uma hora em Lisboa) no comboio que ligava Treuchlingen a Wurzburg, já perto da última estação. Segundo a polícia, o adolescente fugiu quando foi accionado o travão de emergência, mas foi perseguido na rua pelos agentes, que o abateram a tiro depois de o jovem os ter tentado agredir, referem alguns responsáveis.

Herrmann adianta que dos quatro feridos graves, dois estão em estado crítico, e uma das vítimas ficou apenas com ferimentos ligeiros (as primeiras indicações davam conta de 21 feridos; 14 pessoas tiveram de ser assistidas por estarem em estado de choque). O jornal South China Morning Post diz tratarem-se de pessoas originárias de Hong Kong, todas da mesma família. Apenas o ferido ligeiro seria um local.

O caso vem aumentar as preocupações sobre os ataques lançados por "lobos solitários" e pode aumentar a pressão política sobre a chanceler Angela Merkel, que só em 2015 autorizou a entrada na Alemanha de quase um milhão de migrantes, incluindo milhares de menores não acompanhados, adianta a Reuters. As agências humanitárias estimam que pelo menos 20 mil menores chegaram à Europa sozinhos, e que este é o grupo de maior risco entre os refugiados.

O incidente acontece poucos dias depois do ataque em Nice, em França, também reinvindicado pelo Estado Islâmico, que fez 84 mortos. Mohamed Lahouaiej Bouhlel, o francês de origem tunisina que conduzia o camião usado para a chacina, terá seguido uma das sugestões dadas pelo principal porta-voz do EIAbu Muhammad al-Adnani, que num texto partilhado em Setembro de 2014 exortava acções contra os membros da coligação internacional: "Se não forem capazes de encontrar uma bomba ou uma bala, então esmaguem a sua cabeça com uma pedra, apunhalem-no com uma faca, atropelem-no com o vosso carro, atirem-no de uma falésia, estrangulem-no, envenenem-no…”. 

 

 

 

 

 

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