Kofi Annan e Simone Veil receberam em Lisboa prémio Norte-Sul de direitos humanos do Conselho da Europa

Os oradores exaltaram o corajoso e incansável trabalho dos laureados no campo dos direitos humanos como um exemplo inspirador para todos

a Numa cerimónia solene, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, atribuiu ontem na Assembleia da República o Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa a Simone Veil, ex-ministra da Saúde e ex-presidente da Fundação para a Memória da Shoah em França e a Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU e Nobel da Paz. Ambos foram elogiados por Cavaco Silva como duas figuras que "cedo compreenderam e aceitaram as suas responsabilidades" e cuja acção constitui um "exemplo para todos". O Presidente lembrou que "o caminho percorrido não deve fazer esquecer que a promoção de uma sociedade mais justa e livre é um desígnio que continua a exigir de todos uma acção persistente e empenhada".
Claude Frey, presidente do conselho executivo do Centro Norte-Sul, por sua vez, qualificou Simone Veil como um "sinónimo dos direitos humanos" e Annan como "um verdadeiro defensor de valores universais, como a igualdade, a tolerância e a dignidade humana." Ambos, acrescentou o secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, "contribuíram contra todas as formas de extremismo, racismo ou intolerância".
O prémio é atribuído anualmente, desde 1995, a duas personalidades, uma do Norte e outra do Sul, que se distinguiram na defesa dos direitos humanos e na consolidação das relações entre o Norte e o Sul. Alguns dos galardoados no passado foram Peter Gabriel (1995), Graça Machel (1998), Mário Soares (2000), Xanana Gusmão (2002) ou Bob Gedldof (2005).
Nos discursos de agradecimento, Annan considerou que este prémio era a prova do reconhecimento da "interdependência do mundo em que vivemos", "um mundo onde os problemas não podem ser controlados no interior das fronteiras nacionais". E acrescentou: "Uma ameaça para um [país] representa uma ameaça para todos".
Sobre o seu recente papel de mediador da crise no Quénia, nas semanas que se seguiram às eleições, disse: "Os governos não podem brutalizar o seu povo sem contar com uma intervenção do resto do mundo". Já na conferência de imprensa, questionado sobre a situação no Tibete, Annan defendeu o diálogo e pediu que fosse respeitada a vontade do povo.
Simone Veil falou da "problemática dos direitos humanos" como algo que "se alargou no mundo complexo" de hoje. "Colocam-se outras questões, que têm a ver com os direitos humanos" como "tudo o diz respeito à bioética, às relações sexuais entre os homens e as mulheres" ou "a questão dramática" de saber se a oposição à vontade de alguém morrer constitui uma violação dos direitos humanos.
Enquanto ministra da Saúde, sob a presidência de Giscard d"Estaing, Simone Veil elaborou a lei do aborto que entrou em vigor em 1975. Sobre ela, Cavaco Silva disse que a sua vida era um "notável exemplo" do empenho na promoção dos direitos humanos, em particular da mulher, das crianças e dos imigrantes.

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