A Música Portuguesa a Gravar-se a Ela Própria: Profissionais de Saúde da Azambuja - Cantiga Sem Nome

Em 2013, no dia de Natal, gravei uma música cantada pela Adélia Garcia, ela não sabia o nome, tinha aprendido com a sua mãe. A canção foi partilhada, misturada, teve várias versões, foi indicativo de programa de rádio. Na semana passada, estava eu já deitado, o meu amigo médico e gaiteiro, Óscar De Barros, enviou-me uma mensagem: primeiro um vídeo, depois outros, com pessoas de máscara. Eu começo a ouvir um a um, várias pessoas, profissionais de saúde do centro de Saúde da Azambuja a cantar uma frase da música que a Adélia cantava. As lágrimas vieram-me aos olhos. Ele escrevia-me: "Ouve. O que mais me custa nesta crise toda são os velhinhos. É toda a memória que vai ser apagada. Nós não sabemos cantar, mas sabemos tratar. Para que as memórias não fiquem só memória, fique em casa."

Fiquei sem palavras. Estou em casa para poder continuar a gravar, quando isto acabar. Tenho de parar, para o salvar. No fim, ele ainda escreveu: "Nestes tempos tenho-me lembrado muito de ti e do que tens feito, Tiago. Admiro-te." Eu respondi que eu é que o admirava, mas ele replicou: "O que eu faço existe em manuais, qualquer um pode aprender. O que tu fazes vale ouro." O que ele faz neste momento é salvar-nos a todos, grande Serviço Nacional de Saúde. Obrigado a todos vós que andam na linha da frente. Nós ficamos em casa. Obrigado por isto, mostra-nos que ainda há esperança.

Em tempos de isolamento social devido ao surto do novo coronavírus, Tiago Pereira, fundador do projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, está a convidar artistas de todo o país a filmarem-se a tocar uma canção. É A Música Portuguesa a Gravar-se a Ela Própria — e agora o P3 vai partilhar regularmente vídeos desta série.