A Luta Livre de Luís Varatojo aponta agora o punho à gentrificação de Lisboa

É o quinto single do projecto Luta Livre, que o cantor e compositor Luís Varatojo tem vindo a revelar desde Fevereiro, e estreia-se precisamente este domingo. Sushi era no Japão, este novo tema, lança um olhar crítico sobre o fenómeno de descaracterização e gentrificação na cidade de Lisboa, recordando um tempo (a década de 80) em que isso era ainda uma coisa bem longínqua e inimaginável. Este tema, tal como os anteriores e os que virão, devem dar origem a um disco a editar depois do Verão, em CD e LP.

Em Maio passado, Luís Varatojo (Peste & Sida, Despe e Siga, Linha da Frente, A Naifa, Fandango) explicou assim à imprensa como lhe surgiu este projecto, com afinidade com as canções de protesto e de intervenção: “De há um ano para cá, comecei a escrever alguns textos sobre notícias que ia lendo no jornal, fui acumulando esses textos e ao mesmo tempo comecei ia fazer uns instrumentais com base em samples que fui fazendo em discos de jazz. Juntei uma coisa à outra para ver o que dava.” E deu uma série de canções, que ele diz que se mantiveram actuais nestes tempos de pandemia: “Os assuntos são os mesmos, iniquidade, as notícias falsas, a falta de interesse das pessoas em questões políticas verdadeiras, da cidadania. Acabo por confirmar que [esses temas] acabaram por ficar mais presentes, mais visíveis”.

Luís Varatojo, há muito familiarizado com a canção interventiva (na Linha da Frente ou A Naifa, mas também no projecto Canções para Revoluções, com que foi celebrado em Lisboa, num concerto na Praça do Comércio, o 25 de Abril de 2017), já lançou, deste seu Luta Livre, quatro singles e videoclipes: Política (com o saxofonista Ricardo Toscano e o Gospel Collective como convidados), Ninguém quer saber (com Kika Santos, Magnetic Strings e o Coro Infantil Os Amigos do Vicente), Iniquidade (com o saxofonista Edgar Caramelo) e O problema é o sistema (com Kika Santos), que abre com sons gravados em Lisboa, em 27 de Setembro de 2019, numa manifestação pelo clima. “Vem aí um futuro de extremos/ todos sabemos/ que é preciso mudar”, diz a dada altura. Solução? “Resolve o problema/ boicota o sistema”. No primeiro, Política, cantava Luís Varatojo, entre a spoken word, o hip-hop e o jazz: “Associações, sindicatos e partidos/ as classes dominantes/ têm horror aos colectivos!”, falando de “perguntas que põem o Estado nervoso”: “E os estados nervosos são muito perigosos/ mas mais perigosos são os cidadãos/ que não perguntam/ nem querem ouvir respostas”.

“Ainda bem que continua a haver quem não tenha medo de dizer certas palavras, de cantá-las”, escreveu José Luís Peixoto, ao comentar política. E outro escritor, Valter Hugo Mãe, comentando Iniquidade, disse: “A iniquidade não é só que nos proponham a injustiça, é também que a contratemos sem protesto para as nossas próprias vidas.” Sushi era no Japão, outro olhar irónico, aguarda agora por novos comentários.