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Eles querem a fruta que ninguém quer

Cerca de 30% de tudo o que os agricultores produzem é desperdiçado, seja por ter manchas, por ser muito pequeno ou por ter uma forma diferente. Para além da fruta e leguminosas que podem nunca chegar ao mercado por causa destes “defeitos”, também os recursos de quem as produz não são rentabilizados.

Em 2013, Isabel Soares estava a viver em Barcelona, quando soube da existência do concurso “Ideias de Origem Portuguesa”, da Fundação Calouste Gulbenkian. Revoltada com este desperdício que sabia existir, foi nesse momento que sentiu a motivação necessária para passar das ideias à ação. Concorreu, ganhou, e desta vitória surgiu a cooperativa Fruta Feia.

Ao início não foi fácil; foi necessário estabelecer uma relação de confiança com os produtores – eles que andaram anos e anos a ouvir que os produtos feios não valiam nada não queriam acreditar que alguém os queria comprar. Aliás, Isabel chegou a ser expulsa da quinta de um produtor com quem agora trabalha muito, tal era a desconfiança. Actualmente, são 110 os produtores que colaboram com a Fruta Feia, e variam dependendo da época do ano e das semanas, tudo para garantir a máxima sazonalidade e variedade de produtos.

A entrega de caixas funciona em quatro dias da semana, cada dia num sítio diferente. À segunda-feira, a Fruta Feia está no Intendente, no nº 244 da Rua do Benformoso, e em Matosinhos, no nº 153 da Rua da Cruz de Pau. À terça, está no Rato, no nº 64 da Rua Alexandre Herculano, e em Vila Nova de Gaia, no nº98 da Rua José Bonaparte. À quarta-feira, pode encontrá-la no Campo de Santa Clara, no nº144, e no Porto, no nº 219 da Rua do Paraíso. Por último, à quinta-feira é a vez do nº 319 da Rua Marquês de Pombal, na Parede, em Cascais. São cerca de 2900 os compradores e 5 000 aqueles que estão em espera – razão pela qual a ideia agora é alargar mais a rede, abrindo um novo posto de venda. Para preparar todos os cabazes, há por regra uma equipa de dez pessoas a trabalhar, sendo que a maioria são voluntários.

Desde que começou, no final de 2013, a Fruta Feia já evitou (e rentabilizou) cerca de 500 toneladas daquilo que antes era considerado desperdício. No vídeo de hoje, acompanhámos esta cooperativa na preparação do cabaz de uma quarta-feira, cujo ponto de entrega foi no Campo de Santa Clara, no Palácio Sinel de Cordes, onde actualmente está sediada a Trienal de Arquitectura.