Água

Uma corrida contra o tempo para salvar uma cidade à beira da seca

Reuters/UESLEI MARCELINO
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Edivaldo Brito, que mora nos arredores da cidade brasileira de Campina Grande, já não se lembra da última vez que viu a barragem do Boqueirão cheia. Mas após cinco anos de seca garante que nunca viu tão vazio o reservatório de água que fornece a cidade.

“Perdemos tudo: bananas, feijões, batatas. Temos de andar três quilómetros para lavar a roupa”, desabafa. Nos campos ressequidos em torno da cidade, há carcaças de vaca que jazem no chão e cabras esfomeadas a procurar comida no solo rachado pela falta de água.

Depois de dois anos de racionamento, os habitantes queixam-se de que a água da barragem está suja, cheira mal e não é potável. Aqueles que o podem fazer, compram água engarrafada e usam-na para cozinhar, lavar os dentes e até mesmo para dar aos animais de estimação.

Actualmente a barragem encontra-se abaixo dos quatro por cento da sua capacidade e a precipitação esperada este ano é escassa. “Se não encher, o sistema de água da cidade vai entrar em colapso a meio do ano”, explica Janiro Costa Rego, especialista em recursos hídricos e professor na Universidade Federal de Campina Grande. “A cidade teria de ser evacuada", defende.

O problema não é novo. Depois de décadas de promessas e anos de avanços e recuos, o governo de Michel Temer assegura que o reencaminhamento das águas do rio São Francisco, o mais longo do país, vai aliviar não só os habitantes de Campina Grande como os agricultores de quatro estados do Nordeste. A água correrá ao longo de 400 quilómetros de canais até chegar a bacias de rios que se encontram secas nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba – o estado do qual Campina Grande é a segunda maior cidade.

O projecto, que foi iniciado em 2005 pelo então Presidente Lula da Silva, foi adiado várias vezes devido a conflitos políticos, à corrupção e apresenta derrapagens nos custos no valor de mil milhões de euros. Embora retomado, o projecto afigura-se como uma corrida contra o tempo.  O Professor Costa Rego considera que, a partir de Março, será impossível de tratar e que poderá prejudicar os habitantes que não podem recorrer a água engarrafada. No entanto, o Ministro da Integração Nacional Helder Barbalho acredita que a água irá chegar na data prevista. “Temos de fazer a água chegar até Abril a todo o custo”, afirmou.

As secas no nordeste brasileiro têm-se agravado nas últimas três décadas com as alterações climáticas, segundo Eduardo Martins, director da Agencia Meteorológica do Ceará. O professor Costa Rego aponta como causa a falta de planeamento dos governos brasileiros, acusando-os de não ter conseguido antecipar estas crises persistentes.

A barragem que fornece São Paulo, a maior cidade brasileira e uma área metropolitana com 20 milhões de habitantes, quase que secou em 2015. A capital, Brasília, recorreu este ano ao racionamento. Em Fortaleza, a capital do Ceará, a importante barragem do Castanhão está abaixo dos 5 por cento da sua capacidade.

O racionamento da água acaba por afectar principalmente as famílias mais pobres das áreas urbanas, já que muitos não têm acesso a água corrente. Heleno Campos Ferreira é um deles. Com 65 anos, e depois de muito esperar pelos prometidos canais, diz que só vai acreditar neles quando vir a obra terminada e a água a correr.

Edivaldo Brito diz que tanto ele como os vizinhos só sobrevivem recorrendo a programas de ajuda social, que foram a imagem de marca da administração do Presidente Lula. Sem a “Bolsa Família” estaríamos a morrer à fome, diz Brito. “[No próximo ano] é a época de eleições. Por isso eles prometem-nos água só para ter os nossos votos”, queixa-se. 

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