Ásia

No Laos, há um herança perigosa escondida no solo

Durante a Guerra do Vietname, o Laos foi fortemente bombardeado pelos aviões norte-americanos. Ainda hoje carrega a pesada e perigosa herança destes engenhos explosivos escondidos no solo. 

Um monge budista posa ao lado de bombas lançadas pela Força Aérea norte-americana Jorge Silva/Reuters
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Um monge budista posa ao lado de bombas lançadas pela Força Aérea norte-americana Jorge Silva/Reuters

A avó de Yianyang Bounxieng ainda não consegue olhar com bons olhos para os ocidentais. “Quando trago turistas para a conhecer ela zanga-se e diz-me: 'Porque é que os trazes aqui? Eles destruíram tudo'”. Yianyang, de 28 anos, trabalha agora como técnico de apoio na Mines Advisory Group (uma organização não-governamental que se dedica a encontrar e destruir engenhos explosivos por detonar) mas lembra-se de brincar com as bombas quando era criança. Isto passa-se em Xieng Khouang, uma região verdejante e montanhosa no Laos, que durante a guerra do Vietname foi fortemente bombardeada pelos Estados Unidos.

Entre 1964 e 1973, com o objectivo de sabotar as rotas de abastecimento do exército norte-vietnamita, a Força Aérea norte-americana lançou mais de 270 milhões de bombas de fragmentação sobre o Laos, nomeadamente sobre esta região. Um terço não explodiu, segundo dados da Autoridade Nacional de Regulação de engenhos explosivos por detonar. Desde o final da guerra, mais de 20 mil pessoas morreram ou ficaram feridas em consequência destas bombas. Muitas destas vítimas foram crianças.

É com o peso dessa herança que o Presidente Obama vai aterrar no Laos esta segunda-feira. Será inclusivamente o primeiro presidente norte-americano em exercício a fazê-lo. Barack Obama vai estar na capital, Vientiane, para um encontro com os líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático. Prevê-se que Barack Obama anuncie o aumento do financiamento para os trabalhos de detecção e limpeza das bombas e para a realização do primeiro relatório sobre a presença de engenhos explosivos ainda por explodir no Laos. De acordo com a organização Legacies of War - que se dedica a estudar o impacto destas bombas que o conflito do Vietname deixou como herança ao país vizinho -  será necessário gastar cerca de 25 milhões de dólares por ano durante a próxima década para prevenir eventuais acidentes.

O governo acredita que este relatório vai demorar cerca de cinco anos a estar pronto mas os responsáveis no terreno duvidam desse prazo. Phouttasone Nounthabout, que lidera uma das equipas de detecção de engenhos explosivos por detonar duvida, está pessimista:  “Há tanta terra ainda por limpar...”, desabafa.

Ainda que o número de acidentes tenha descido nos últimos anos, com o número de vítimas a descer de 300, em 2008, para 42, em 2015, as autoridades  garantem que a percentagem de crianças mortas ou feridas tem aumentado. “As crianças são curiosas e tendem a brincar com as bombas”, afirma Balasubramaniam Murali, representante do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, no Laos.

Pomee Kaewpimpa vive na região de Xieng Khouang. Tem agora 59 anos mas lembra-se de ver as bombas caírem, às vezes até três vezes por dia, quando era bem mais novo. Mas mais do que o passado, o que o preocupa é o futuro: “Até que todas as bombas sejam retiradas do solo as nossas crianças vão estar em risco. Será que esses americanos que perfuraram a nossa terra com bombas estão arrependidos?”

Uma casa assente em partes de bombas
Uma casa assente em partes de bombas Jorge Silva/Reuters
Uma etiqueta numa bomba lançada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietname
Uma etiqueta numa bomba lançada pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietname Jorge Silva/Reuters
Uma moradora da região de Xieng Khouang segura numa das bombas
Uma moradora da região de Xieng Khouang segura numa das bombas Jorge Silva/Reuters
Numa aldeia, as bombas foram utilizadas para completar uma vedação
Numa aldeia, as bombas foram utilizadas para completar uma vedação Jorge Silva/Reuters
Neste caso uma bomba foi reutilizada como canteiro de flores
Neste caso uma bomba foi reutilizada como canteiro de flores Jorge Silva/Reuters
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang Jorge Silva/Reuters
Mais de 20 mil pessoas morreram ou ficaram feridas em consequência destas bombas por detonar
Mais de 20 mil pessoas morreram ou ficaram feridas em consequência destas bombas por detonar Jorge Silva/Reuters
No entanto, o número de vítimas tem diminuído nos últimos anos
No entanto, o número de vítimas tem diminuído nos últimos anos Jorge Silva/Reuters
Mais de 270 milhões de bombas de fragmentação foram lançadas sobre o Laos
Mais de 270 milhões de bombas de fragmentação foram lançadas sobre o Laos Jorge Silva/Reuters
Um terço dos engenhos explosivos ficou por detonar
Um terço dos engenhos explosivos ficou por detonar Jorge Silva/Reuters
Serão necessários 25 milhões de dólares por ano durante a próxima década para prevenir acidentes
Serão necessários 25 milhões de dólares por ano durante a próxima década para prevenir acidentes Jorge Silva/Reuters
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território Jorge Silva/Reuters
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território Jorge Silva/Reuters
Uma bomba por detonar é sinalizada no solo para posterior eliminação
Uma bomba por detonar é sinalizada no solo para posterior eliminação Jorge Silva/Reuters
Uma técnica da ONG Mines Advisory Group, responsável pela detecção e limpeza de engenhos explosivos
Uma técnica da ONG Mines Advisory Group, responsável pela detecção e limpeza de engenhos explosivos Jorge Silva/Reuters
Um homem produz colheres a partir de metal derretido das bombas
Um homem produz colheres a partir de metal derretido das bombas Jorge Silva/Reuters
Os trabalhos de detecção e limpeza de engenhos explosivos por detonar prossegue
Os trabalhos de detecção e limpeza de engenhos explosivos por detonar prossegue Jorge Silva/Reuters
Uma técnica da ONG Mines Advisory Group, responsável pela detecção e limpeza de engenhos explosivos
Uma técnica da ONG Mines Advisory Group, responsável pela detecção e limpeza de engenhos explosivos Jorge Silva/Reuters
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang Jorge Silva/Reuters
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang Jorge Silva/Reuters
Soud, que tem agora 40 anos, perdeu a mão aos 10 num acidente com um engenho por detonar
Soud, que tem agora 40 anos, perdeu a mão aos 10 num acidente com um engenho por detonar Jorge Silva/Reuters
Soud, que tem agora 40 anos, perdeu a mão aos 10 num acidente com um engenho por detonar
Soud, que tem agora 40 anos, perdeu a mão aos 10 num acidente com um engenho por detonar Jorge Silva/Reuters
Ke, 28 anos, ficou ferido há cinco anos enquanto procurava metal para vender
Ke, 28 anos, ficou ferido há cinco anos enquanto procurava metal para vender Jorge Silva/Reuters
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território
O governo planeia realizar um relatório sobre a presença de explosivos no território Jorge Silva/Reuters
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang
As bombas passaram a fazer parte do cenário na região de Xieng Khouang Jorge Silva/Reuters