25 de Abril

No Bairro da Bouça, a Grândola está à janela

Paulo Pimenta
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Paulo Pimenta

Já passava da meia-noite quando Maria do Carmo Santos e António Santos subiram à varanda da sua casa no Bairro da Bouça, no Porto, para hastear a bandeira de Portugal. Num 25 de Abril como todos os outros, estariam lá fora. Na noite de 24, não arredariam pé da Avenida dos Aliados para, de cravo na mão, juntarem as suas vozes às do Coral de Letras; e este sábado não faltariam ao tradicional Desfile da Liberdade. “Vamos sempre para a rua”, evidencia Maria do Carmo.

Este ano, num 25 de Abril como nenhum outro, em que as ruas estão vazias e os festejos decorrem entre paredes devido à pandemia de covid-19, tiveram de mudar de planos. A servir de palco, a casa onde vivem há mais de 40 anos, num bairro de habitação social com ADN de Abril – nunca esquecer que a (cada vez mais gentrificada) Bouça foi primeiramente construída no pós-25 de Abril a várias mãos, as de habitantes, técnicos e arquitecto, neste caso Siza Vieira, à boleia do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL).

Assim, a bandeira na varanda ali recebeu a madrugada do “dia inicial inteiro e limpo”. Ao início da tarde, vieram os desenhos da “netinha”, dois cravos pintados com a inscrição 25 de Abril. E às 15h, como estava marcado, abriram-se as janelas para a Grândola, vila morena que a vizinhança entoou, mal ou bem não importa, de cravos (e coração) nas mãos – e alguma comoção no olhar. No final, ecoa o grito de António em plenos pulmões: “25 de Abril, sempre. Fascismo nunca mais.”

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