Índia

O desencanto dos encantadores de serpentes

Reuters/ADNAN ABIDI
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“As nossas famílias já fazem isto há mais de sete gerações e por isso nós também”, explica Buti Nath. O “isto” a que se refere este sexagenário da aldeia de Jogi Dera, no populoso estado indiano de Uttar Pradesh, é encantar serpentes.

À sua frente encontra-se uma cesta, que Buti trata de virar ao contrário. Lentamente uma serpente vai aparecendo e, pouco depois, começa a balançar ao som da flauta que Buti toca. Ele faz parte de uma ancestral tribo de encantadores de serpentes, os saperas, que ao longo de várias gerações se tem dedicado a capturar serpentes venenosas e a fazê-las dançar com a sua música.

“Somos chamados sempre que aparecem animais perigosos nas casas ou terrenos – vamos lá e apanhamo-los com coragem”, afirma. Em alguns casos, os encantadores costumam ser também as figuras a quem a população recorre quando alguém sofre uma mordedura destes répteis.

As cobras são veneradas pela comunidade Hindu na Índia e os encantadores são considerados seguidores de Shiva, o deus Hindu que habitualmente é representado com uma cobra-real ao pescoço.

No entanto, a posição que os encantadores de serpentes ocupam no quotidiano indiano, enquanto presença regular em festividades e bazares, hipnotizando multidões de curiosos com a sua capacidade de controlar algumas das perigosas e venenosas criaturas do mundo, tem perdido força de uma forma crescente.

Depois de uma proibição decretada em 1991, o reforço das medidas de protecção e preservação dos animais selvagens implementadas pelas autoridades tem colocado entraves a esta tradição, queixam-se os encantadores de serpentes.

Por outro lado, o próprio avanço do tempo e das mentalidades tem provocado os seus efeitos. Hoje em dia, existem inúmeras formas de entretenimento disponíveis e os saperas já não conseguem garantir o rendimento necessário para sustentar a sua família. Por exemplo, um encantador de serpentes como Buti Nath ganha cerca de 200 rupias num dia, aproximadamente 2,75 euros.

Mangal Nath, um habitante da região com 30 anos entrevistado pela agência Reuters, defende que “não há espaço numa sociedade civilizada para as pessoas andarem a apanhar cobras, aprisioná-las e usá-las para uma espécie de espectáculo de entretenimento”.

Os mais jovens habitantes destas aldeias, que até há uns anos sonhavam tornar-se encantadores, têm procurado trabalho na construção civil ou como condutores de riquexó.

Com 14 anos, Kuldip Nath já se tornou um encantador de serpentes como o pai. Não frequenta a escola e isso deixa-o preocupado. “Às vezes sinto que devia estudar, arranjar um emprego normal ou ter algum negócio”, para conseguir sustentar a família e os filhos que conta ter.

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