França

A luta como "um pequeno paraíso, aqui e agora"

Do ginásio para o palco de um teatro, os lutadores de Saint-Denis, nos arredores de Paris, mostram que os desportos de combate podem ser uma linguagem universal e integradora.

Corine Miret durante o espectáculo A Tribo dos Lutadores JOEL SAGET/AFP
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Corine Miret durante o espectáculo A Tribo dos Lutadores JOEL SAGET/AFP

O palco do Théâtre de la Commune, em Aubervilliers, está completamente preenchido com um tapete de luta. Alguns bonecos de treino em couro completam o cenário do espectáculo A Tribo dos Lutadores, primeira parte de um projecto da companhia Revue Eclair, de Corine Miret e Stéphane Olry.

A dupla, que tem desenvolvido espectáculos onde a vertente documental se mescla com a ficção, explora há dois anos o universo dos desportos de combate em Saint-Denis, procurando uma imersão no quotidiano dos ginásios e clubes de luta. No caso de Stéphane, a relação tornou-se tão próxima que já está inscrito como pugilista principiante numa equipa no bairro de Aubervilliers e tem prestado apoio escolar aos atletas mais novos.

“Queríamos mostrar que há uma verdadeira arte, uma ciência, uma linguagem que passa pelos corpos, nesta zona de Seine-Saint-Denis, onde muitas das pessoas são recém-chegadas”, explica Stéphane à agência France Press.

“Estas pessoas, que ainda não falam francês, são recebidas nestes clubes onde podem encontrar outras pessoas, praticar um desporto que dominam,  e recuperar o orgulho e a dignidade”, acrescenta Corinne Miret.

Uma dúzia de elementos dos Les Diables Rouges (Diabos Vermelhos) estão no centro do espectáculo actualmente em cena. Ao seu lado, em palco, sentada num banco, Corine comenta as técnicas de treino, recorda as origens deste tipo de desporto ou lê um excerto da milenar Epopeia de Gilgamesh sobre a luta.

O projecto inclui três espectáculos: A Tribos dos Lutadores, em cena até 15 de Dezembro no Théâtre de La Commune, Combattre, criado a partir de entrevistas com mulheres que praticam artes marciais mistas (MMA). E Le Ring, sobre o pugilismo, que se vai estrear em 2018 no Teatro MC93 de Bobigny.

No ginásio dos Diabos Vermelhos, fundados há cerca de 100 anos, pratica-se luta livre e luta greco-romana e contam-se cerca de 200 atletas de várias nacionalidades e idades. “Passa-se a porta e fica-se desorientado: afegãos, arménios, tchetchenos, russos, georgianos, ossetas, senegaleses... é todo um mundo”, explica Stéphane.

“As pessoas imaginam um mundo violento, e é o oposto”, sublinha Corine Miret. “Devíamos iniciar todas as crianças nestes desportos, trata-se de uma relação com o outro, um desporto que ensina a ganhar e a perder e isso criar pessoas muito pacíficas”. “É uma espécie de universo encantado, onde ninguém quer saber o que fazemos na vida, de onde vimos”, conclui Stéphane Olry. “Um pequeno paraíso aqui e agora”.

<i>A Tribo dos Lutadores</i> está em cena em Paris
A Tribo dos Lutadores está em cena em Paris JOEL SAGET/AFP
Stéphane Olry é um dos encenadores
Stéphane Olry é um dos encenadores JOEL SAGET/AFP
Os <i>Diabos Vermelhos</i>, aqui a treinar no seu ginásio, estão no centro do espectáculo
Os Diabos Vermelhos, aqui a treinar no seu ginásio, estão no centro do espectáculo JOEL SAGET/AFP
<i>A Tribo dos Lutadores</i> está em cena em Paris
A Tribo dos Lutadores está em cena em Paris JOEL SAGET/AFP
Nodar é um lutador e treinador nos <i>Diabos Vermelhos</i>
Nodar é um lutador e treinador nos Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
Mathilde também pratica luta com os <i>Diabos Vermelhos</i>
Mathilde também pratica luta com os Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
Alguns dos adereços de treino usados quer no ginásio quer no espectáculo
Alguns dos adereços de treino usados quer no ginásio quer no espectáculo JOEL SAGET/AFP
Os <i>Diabos Vermelhos</i>, aqui a treinar no seu ginásio, estão no centro do espectáculo
Os Diabos Vermelhos, aqui a treinar no seu ginásio, estão no centro do espectáculo JOEL SAGET/AFP
Os <i>Diabos Vermelhos</i> existem há 100 anos e contam com 200 atletas de várias nacionalidades
Os Diabos Vermelhos existem há 100 anos e contam com 200 atletas de várias nacionalidades JOEL SAGET/AFP
O espectáculo <i>A Tribo dos Lutadores</i> está em cena do Teatro de Aubervilliers, em Saint-Denis
O espectáculo A Tribo dos Lutadores está em cena do Teatro de Aubervilliers, em Saint-Denis JOEL SAGET/AFP
Manvel faz parte dos <i>Diabos Vermelhos</i>
Manvel faz parte dos Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
Treinador e atleta, Christian também é membro dos <i> Diabos Vermelhos</i>
Treinador e atleta, Christian também é membro dos Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
O ginásio dos <i> Diabos Vermelhos</i> fica em Bagnolet, nos arredores de Paris
O ginásio dos Diabos Vermelhos fica em Bagnolet, nos arredores de Paris JOEL SAGET/AFP
Dane treina outros lutadores no ginásio dos <i> Diabos Vermelhos</i>
Dane treina outros lutadores no ginásio dos Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
Florian pratica luta greco-romana nos <i> Diabos Vermelhos</i>
Florian pratica luta greco-romana nos Diabos Vermelhos JOEL SAGET/AFP
Fréderic Baron é actor e também participa no espectáculo
Fréderic Baron é actor e também participa no espectáculo JOEL SAGET/AFP
Grigor é um dos elementos dos <i>Diabos Vermelhos</i> que fazem parte do espectáculo
Grigor é um dos elementos dos Diabos Vermelhos que fazem parte do espectáculo JOEL SAGET/AFP