Madrid volta a render homenagem ao fado

  • Entre os dias 22 e 24 de Junho, o fado volta a fazer-se ouvir e sentir na capital espanhola. O Festival de Fado de Madrid está de regresso, desta vez com as vozes de Mísia, Katia Guerreiro e Carminho.

    Pelo oitavo ano consecutivo, o Festival de Fado cumpre-se na capital espanhola, impondo-se como um evento obrigatório para todos – e são muitos – os que já aqui ao lado vibram com a musicalidade do fado. Durante três dias, a programação musical da cidade é contagiada por guitarras e sentimentos lusitanos, fazendo convergir para o Teatro Nuevo Apolo os admiradores de Mísia, Kátia Guerreiro e Carminho - as três vozes que este ano encabeçam o cartaz. “Fado Fora de Portas” é o tema central desta edição e serve de inspiração para as actividades paralelas previstas, como a exposição “Fado – Património da Humanidade”, produzida em parceria pelo Museu do Fado e pela EGEAC. O mote justifica-se, já que o fado tem sido capaz, ao longo da sua história, de atravessar todas as fronteiras – culturais e geográficas – reinventando-se sempre. O fado deixou de ser a canção de Lisboa para, tantas vezes, ser a canção que dá corpo ao sentir de gente de todo o mundo. E esta será, talvez, uma das razões por que o Festival de Fado de Madrid é um sucesso, tendo já assegurado um lugar privilegiado na agenda cultural madrilena.

    Três dias de fado

    Mísia é a primeira fadista a subir ao palco do Teatro Nuevo Apolo, no dia 22 de Junho. Filha de pai português e mãe catalã, Mísia foi uma das primeiras vozes a romper com a tradição, trazendo outras influências e idiomas ao fado. Considerada pioneira do movimento do novo fado dos anos 1990, hoje é um dos nomes consagrados, não só em Portugal como no estrangeiro. Com 13 álbuns editados, tem o privilégio de contar no repertório com poemas escritos para a sua voz por alguns dos melhores poetas portugueses vivos. No Festival de Fado de Madrid 2018 apresentará “Pura Vida”, um novo espectáculo que inclui temas clássicos e alguns inéditos. A intenção é, como sempre foi, a de cantar o léxico e a gramática das emoções: amor, beijo, corpo, destino e saudade.

    No dia seguinte, 23 de Junho, está marcada a actuação de Katia Guerreiro, uma das mais importantes vozes da sua geração. Consigo o fado tem viajado milhas intermináveis e cruzado com influências múltiplas, de que são exemplo as colaborações com artistas como Maria Bethânia, Amina Alaoui, Husnu Senlendirici ou Ney Matogrosso, entre outros. Em 2013 foi condecorada com as insígnias de Cavaleiro da Ordem de Artes e Letras pelo estado francês, um dos mais prestigiados galardões atribuídos a cidadãos estrangeiros. Nesta actuação, em Madrid, partilhará temas do álbum “Até ao Fim”.

    Carminho é a fadista que encerra o festival, no dia 24 de Junho. Reconhecida como uma das artistas portuguesas com maior projecção internacional de sempre, tem o fado no sangue e convive com o género desde sempre, ou não fosse filha da grande fadista Teresa Siqueira. Habituada a frequentar casas de fado desde muito nova, grava o primeiro álbum em 2009 – “Fado” – considerado de imediato como a maior revelação de fado daquela década. Ao interpretar “Perdóname” com Pablo Alborán, tornou-se a primeira artista portuguesa a alcançar o lugar cimeiro do top espanhol. Depois disso tem vindo a aprofundar a relação com o outro lado do Atlântico. Por exemplo, em 2016 gravou “Carminho Canta Tom Jobim”, a convite da família deste, tendo partilhado temas com Marisa Monte, Chique Buarque ou Maria Bethânia.

    Nesta edição do Festival de Fado de Madrid, Carminho regressa a um palco que já conhece, da mesma maneira que conta já com diversas participações no Festival de Fado do Brasil, Buenos Aires, Bogotá, Chile, Barcelona, Sevilha e Rabat.

    Fado como world music

    Em exibição durante os três dias do evento, a exposição “Fado – Património da Humanidade”, parte do tema central do festival - “Fado Fora de Portas” – e percorre os grandes momentos de mediatização do fado. Na exposição são recordados os protagonistas desse movimento, desde a década de 1930 até aos dias de hoje, altura em que o fado já está plenamente integrado no circuito internacional de world music, numa celebração universal da cultura portuguesa renovada.

    Outras actividades paralelas estão também previstas, como a masterclass sobre “Guitarra Portuguesa”, orientada pelo guitarrista Pedro de Castro. Recorrendo a um registo informal e intimista, o músico propõe-se falar sobre a história do fado, a técnica e as especificidades do instrumento, sem esquecer partilha de histórias e testemunhos sobre este género musical.

    “A Internacionalização do Fado” é o tema de uma conferência marcada para o dia 24 de Junho, apresentada por Andreia de Brito, uma das curadoras do Museu do Fado. Aqui serão abordados os momentos marcantes durante os quais o fado atravessou fronteiras e rompeu barreiras linguísticas e culturais até se tornar no que é hoje: Património Cultural Imaterial da Humanidade, desde 2011, e género musical celebrado em todo o mundo.

    Carlos do Carmo e Mariza em filme

    Ainda no âmbito do festival está prevista a exibição de dois documentários do realizador Ivan Dias, cada qual sobre uma estrela maior do fado. No dia 23 de Junho, a Filmoteca Española acolhe a exibição de “Carlos do Carmo - Um Homem no Mundo”, documentário em que a história do fadista é contada por ele próprio, num trajecto que parte da primeira gravação que fez – aos 11 anos de idade na Adega da Lucília, acompanhado pelos pais – até à entrega do Grammy Latino, que recebeu em Las Vegas, em 2014. “Mariza no Palco do Mundo” é o título do documentário exibido no dia seguinte, 24 de Junho, também realizado por Ivan Dias. O fio condutor é uma digressão da fadista por Nova Iorque, Los Angeles, Miami e Espanha, contando-se a história da cantora e do próprio fado.

    Este é o oitavo ano em que se realiza este certame em Madrid. Na edição de 2017 participaram Raquel Tavares, Gisela João e Camané. Já em 2016 tinham actuado Ana Moura, António Zambujo e Cuca Roseta.