Vendedores do Bolhão desaprovam solução de mercado temporário

Comerciantes rejeitam ir para o piso -1 do centro comercial La Vie e queixam-se de terem sabido dessa opção pela comunicação social

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os comerciantes do bolhão vão ser instalados, durante as obras, num espaço nas imediações do mercado Paulo Pimenta

Vendedores do Mercado do Bolhão desaprovam a solução autárquica para os realojar temporariamente numa "cave" de um centro comercial, mas a Câmara do Porto promete promoção especial e dinâmicas culturais e de divulgação para ajudar negócios.

A Lusa ouviu esta quinta-feira vários vendedores do Bolhão, no âmbito do arranque das obras preparatórias da reabilitação do edifício, cujo início se prevê para a próxima segunda-feira, e a conclusão é que a larga maioria dos inquiridos contesta a solução temporária de passarem dois anos a vender no piso -1 do centro comercial La Vie. "Não queremos ir para uma cova. Estamos habituados ao ar livre. Querem pôr-nos numa cave de um centro comercial. Quem é que vai comprar para lá?", questiona Lúcia Fernandes, que vende peixe congelado no Bolhão.

A vendedora de peixe fresco Sara Araújo, 42 anos, é imperativa e diz que não vai para o centro comercial La Vie, revelando-se surpreendida por ter sabido pela comunicação social que iria ter de trabalhar durante dois anos numa cave de um centro comercial, o prazo estimado para as obras de remodelação do mercado do Bolhão. "Isto é como tirar-nos do paraíso e meterem-nos no cativeiro", lança a vendedora de peixe, afirmando que apesar de acreditar no novo projecto para o Bolhão, avisa que é "preciso bom senso, sem decisões unilaterais".

Também Fernando Pereira, vendedor da Padaria Claudina no Bolhão, está contra a solução temporária que a Câmara do Porto encontrou. "O La Vie morreu ao nascer e nós vamos morrer ao entrar", diz o comerciante, cuja opinião é partilhada pela colega Rosa Pereira, que diz que não quer ir para um piso fechado num centro comercial. "Ninguém vai. Não somos gado, somos gente. Eles estão a fazer tudo o que lhes apetece. Mas nós, como disse o Presidente Marcelo [Rebelo de Sousa], todos juntos, vamos conseguir o nosso objectivo, separados é que não conseguimos", conclui Rosa, de 54 anos de idade, 40 dos quais a vender pão na Padaria Claudina do Bolhão.

Sara Araújo reitera que ir para o La Vie é uma "sentença de morte" e recorda que a câmara informou os vendedores, um a um, de que havia outras soluções, como a Casa Forte ou Vilares. "Agrada-nos a Casa Forte, porque é sair de uma esquina para outra", defende, por seu turno, Lúcia Fernandes, contestando o facto de a câmara já ter avisado que se não acatassem a solução temporária do Bolhão, perderiam o lugar no mercado renovado. "Isso é chantagem. É meterem a choupa (ferro de dois gumes para abater animais) à nossa frente".

Em declarações à Lusa, o adjunto do presidente da Câmara do Porto, Nuno Santos, admitiu entender os "receios da mudança" que os vendedores estão a sentir, mas garantiu que a "câmara fará um trabalho de divulgação e promoção" e que está a trabalhar para lançar uma marca Bolhão para o arranque do mercado temporário.

"Vai ser criada uma marca 'Bolhão', que vai ser fundamental para o mercado e que vai ter o seu arranque com o mercado temporário", avançou à Lusa Nuno Santos, referindo que dos 27 milhões de euros previstos para a obra de reabilitação do Mercado do Bolhão está também presente a "criação de uma marca" e publicidade na cidade e na Metro dando especial atenção ao mercado temporário.

Confrontado com o facto de os vendedores terem tomado conhecimento da solução do La Vie pela comunicação social, Nuno Santos explica que foi exigido um princípio de sigilo para se conseguir o melhor negócio, mas que a informação vai começar a ser feita "nas próximas semanas aos comerciantes". "A vantagem deste espaço - o La Vie - é a proximidade ao Mercado do Bolhão e as boas ligações ao metro com a mesma saída de metro e com entrada directa para ambos os locais, lembrou Nuno Santos.

A autarquia aponta a conclusão da modernização do Bolhão para 2019 e refere que esta primeira empreitada de oito meses, relativa ao desvio de uma linha de água, torna "irreversível" a recuperação do equipamento, depois de "mais de três décadas de avanços e recuos".

A câmara anunciou que as obras no interior do edifício iriam começar "na primeira metade" de 2017, em princípio em Abril, e que demorariam 24 meses.

O Mercado do Bolhão é um dos mais emblemáticos da cidade do Porto. Foi homologado como imóvel de interesse público em 22 de Fevereiro de 2006 e em 2013 foi classificado como monumentos de interesse público.     

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