Usar óleo de fritar para limpar? Há empresas a germinar no interior com ideias fora da caixa

O concelho de Penela pretende ajudar a ficar empresas e impulsionar o desenvolvimento do território. Houve um concurso de ideias e já há vencedores. Falta pô-las em prática.

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Penela quer combater a desertificação do seu território ADRIANO MIRANDA

A alavancagem da HIESE, a incubadora do mundo rural instalada no município de Penela, está a entrar numa nova fase com o reconhecimento de cinco ideias de negócio.

A HIESE – que é a sigla para habitat de inovação empresarial nos sectores estratégicos - foi apresentada em Março deste ano, tendo promovido um concurso de ideias para impulsionar a fase de arranque. Os três premiados e as duas menções honrosas são apresentados nesta quarta-feira, em Penela, município do sul do distrito de Coimbra.

O primeiro prémio foi para a EcoXperience, que aposta na valorização de óleos alimentares usados para os transformar em produtos de limpeza. O promotor do projecto, César Henriques, diz que a ideia já passou a empresa e já estão a comercializar o primeiro produto – uma espécie de kit ecológico “faça você mesmo” que é vendido numa “perspectiva mais didática”.

A ideia condiz com o objectivo da estrutura, que passa por fixar empresas no concelho e ajudar ao desenvolvimento do território em sectores como a agro-indústria, a floresta, o ambiente, serviços sociais, turismo e energia limpa, como explica ao PÚBLICO o director executivo do HIESE, Joaquim Macedo de Sousa.

A empresa recebe assim um apoio de 5 mil euros em serviços ou material informático e ainda a estadia de um ano no espaço de incubação de Penela. Nenhum prémio é pecuniário, explica Joaquim Macedo de Sousa, que sublinha que a intenção passa por “dar a cana e ajudar a pescar”, numa “ajuda mais pedagógica”.

César Henriques refere que a empresa ainda se encontra numa fase em que “está a ganhar tracção”, mas já têm compradores. Em estudo está a criação de outro kit, também com base na ideia de “faça você mesmo”, mas diversificando os produtos de limpeza. Se para já seguem uma linha educativa, a intenção no futuro é entrar nas linhas domésticas e industrial, para o sector de hotelaria, restauração e cafetaria. Para além de ecológico, o método permitira “poupar alguns euros”, assegura o promotor.

O director executivo do HIESE explica que foram reconhecidos projectos “com níveis de maturidade diferentes”. O segundo prémio, o Smart Composite Solutions, é exemplo desse diferente grau de desenvolvimento. A promotora, Tatiana Marques, que viu a sua ideia reconhecida com 3 mil euros em serviços ou material informático e ainda 6 meses no espaço de incubação do HIESE, explica que o projecto está na fase de construção do primeiro protótipo.

A marca já está criada, assim como o pedido de autorização para o registo de patente, mas, ao contrário da EcoXperience, ainda não está a comercializar. E em que consiste o produto? Num material inteligente impermeável ao líquido mas permeável ao ar, explica Tatiana Marques, que desenvolveu a investigação no âmbito da tese de doutoramento na área de engenharia de estruturas e materiais.

Numa primeira fase, o material vai servir para construir cubas para armazenamento de vinho, mas depois o objectivo é diversificar. Para além do sector vinícola, o material pode também ser utilizado em mobiliário, exemplifica a doutoranda, que acrescenta ainda que este é eco-eficiente. “Utilizamos desperdícios das indústrias, o que permite reciclar sem comprometer a durabilidade”, sublinha.

O terceiro prémio foi para a iniciativa NHAMi I Innovate Artisan Food, que recebe 2 mil euros em serviços e 6 meses de incubação. Os projectos Toal Ecobebidas e Phyen receberam ainda menções honrosas e seis meses de incubação gratuita no HIESE. Os cinco projectos vão ocupar parte dos 14 espaços disponíveis na estrutura, sendo que outros cinco já se encontram preenchidos.

Fixação em Penela

Ao impulsionar o HIESE, a intenção da autarquia é atrair empreendedores e criar empresas para combater a corrente de desertificação do interior. A julgar pelas previsões de dois dos premiados, o primeiro passo está dado.

Para já, a EcoXperience ocupa um espaço na Pedrulha, uma zona industrial nos arredores de Coimbra, mas vai mudar-se para Penela. Para além de terem o espaço de incubação HIESE, a empresa conta instalar a linha de produção no município, refere César Henriques.

O reconhecimento e apoio que vêm com o prémio significam para Tatiana Marques “uma ajuda” e “essencialmente um apoio para a colocação [do produto] no mercado”. Sobre a possível fixação em Penela, “tudo depende das condições” que forem oferecidas no futuro, mas em princípio o objectivo é esse. Tanto a proximidade ao Instituto Pedro Nunes e à Universidade de Coimbra (onde os ensaios foram realizados) como pela atractividade do município para instalação de empresas, como “terrenos mais baratos”.

César Henriques destaca ainda que o prémio, para além do apoio infraestrutural, significa que vão estar “rodeados de mais start-ups com muita qualidade” e sublinha que “é muito importante falar com quem está a passar pelas mesmas dificuldades”. No final deste ano haverá uma nova fase do concurso de ideias. 

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