Neste palacete vão ser guardadas as memórias de Matosinhos

A Casa da Memória abre em Matosinhos no final deste ano. As obras de restauro do Palacete Visconde de Trevões, onde vai funcionar o museu, terminaram e o espaço começará a ser equipado. No total, o museu custará à autarquia cerca de 700 mil euros.

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Paulo Pimenta
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As obras de restauro do Palacete Visconde de Trevões, em Matosinhos, onde vai funcionar a Casa da Memória, terminaram. O edifício construído em 1909, adquirido pela autarquia em 1955, está agora preparado para entrar na segunda fase do projecto, que passa por dotá-lo de todas as infra-estruturas necessárias para que o museu que reunirá a história e a identidade do concelho matosinhense possa abrir portas. O espaço museológico, com abertura inicialmente prevista para 2016, estará apto para receber os primeiros visitantes no final deste ano. Ao município, as obras da casa que fica entre o edifício dos Paços do Concelho e a biblioteca municipal, realizadas pela Norasil, custaram cerca de 400 mil euros, aos quais se somam mais 300 mil, valor que será gasto para equipar o museu.

Antes disso, no feriado de celebração do 25 de Abril, a antiga residência de Emídio Ló Ferreira, o Visconde de Trevões, onde também funcionou a biblioteca Florbela Espanca até à abertura das actuais instalações, haverá visitas com entrada gratuita guiadas pelo historiador Joel Cleto, que idealizou o conceito e a narrativa do museu. Servem estas visitas para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de ver aquele espaço completamente vazio por nunca ter existido essa oportunidade. Recorde-se que além das funcionalidades já referidas a casa foi também uma escola e sede da polícia municipal. Por isso mesmo, o edifício nunca esteve totalmente vazio de mobiliário e outro equipamento.  

O PÚBLICO visitou o palacete poucos dias após terminadas as obras, com o vereador da Cultura da autarquia, Fernando Rocha, que nos adiantou alguns pormenores relativos à futura dinâmica  de funcionamento do museu.

São quatro pisos (rés-do-chão, 1º e 2º andar e sótão) divididos entre espaço para serviço educativo, arquivo fotográfico, salas de exposição temáticas e gabinetes de arqueologia e história. A entrada para a casa continuará a ser feita pelo mesmo sítio onde já se fazia quando ainda era biblioteca. No rés-do-chão funcionarão os serviços, o gabinete de arqueologia e história, que estará equipado com  laboratório de fotografia. Neste piso, uma das diferenças mais significativas relativamente ao período antes das obras é a altura do pé direito, que está agora mais alto. Anteriormente existia um tecto falso rebaixado que foi removido.

Do lado esquerdo, pouco mais à frente da entrada, há agora um elevador, construido numa antiga arrecadação, que permitirá o acesso ao museu de pessoas com mobilidade reduzida. Em todos os outros pisos, existia um espaço para arrumos, exactamente na mesma direcção dos que estão nos andares superiores e inferiores, o que facilitou a adaptação. Toda a estética original do edifício foi preservada, nomeadamente a azulejaria ou as cores das paredes, como acontece na sala onde se instalará o serviço educativo que conserva os azulejos do início do século passado.

Quando o museu estiver a funcionar, é no rés-do-chão que a visita vai começar. Os visitantes serão recebidos por uma versão virtual do anfitrião da casa, o visconde, que fará um resumo do que poderá ser visto no museu e contará a sua história e a da casa que mandou construir.

Ló Ferreira (1860-1942), explica Fernando Rocha, nasceu na aldeia de Trevões, concelho de S. João da Pesqueira, e cedo se mudou para Matosinhos onde trabalhou no porto de Leixões. Mais tarde partiu para o Brasil em busca de fortuna. Foi, como refere, um dos chamados “torna-viagem”, nome dado a quem emigrou para o Brasil e mais tarde voltou. Do outro lado do Atlântico foi ajudado por Constantino Nery, que foi governador de Manaus e era conhecido pelo seu envolvimento em projectos sociais e culturais. Quando Ló Ferreira regressou a Matosinhos construiu o palacete e fundou o Cine-Teatro Constantino Nery em homenagem ao seu benfeitor.  

Esta e outras histórias poderão ser acompanhadas através dos vários ecrãs tácteis e não tácteis que estarão espalhados pelo edifício ou com o recurso a óculos de realidade virtual, uma das formas de conhecer o espaço que terá também painéis, vitrines e uma forte componente sonora e digital.

No piso 1 é onde começará efectivamente a viagem pela história do concelho ao qual foi atribuído foral manuelino há 500 anos. Essa viagem inicia-se na pré-história, passará pelo período romano, pela emigração nos anos 20 para o Brasil, pelo Senhor de Matosinhos, pela indústria conserveira, actividade piscatória, até chegar à arquitetura. Todos estes períodos estarão divididos pelas várias salas do 1º e 2º piso. Ainda no 1º piso há uma sala – Sala dos Espelhos – que conserva uma pintura no tecto datada de 1912, assinada pelo Atelier Silva e Cia, que terá função de espaço multifunções.  

No sotão, que nunca esteva aberto ao público, numa das salas, será montado um gabinete com uma câmara de filmar e um microfone onde qualquer pessoa poderá contar histórias relacionadas com o concelho, que serão guardadas num arquivo que reunirá estas memórias individuais.

Acima de tudo, de acordo com o vereador da Cultura, a Casa da Memória, que ainda não é certo que manterá esta designação, é uma porta de entrada para conhecer Matosinhos. Ainda sem data exacta definida para a inauguração, embora garanta que abrirá perto do final do ano, sublinha o cariz “remissivo” do museu: “Quem visita o museu é remetido a conhecer os lugares mostrados na exposição para que possam ver e conhecer a história no local onde ela aconteceu”.

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