Treze famílias vão ter uma nova casa na ilha da Bela Vista já em Setembro

Segunda fase do projecto inclui a reabilitação de mais 22 fogos que deverão estar concluídos em Março.

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Rui Moreira ouviu elogios e algumas críticas às obras na Bela Vista HUGO SANTOS

Ana Martins, nascida e criada na ilha da Bela Vista, vai ocupar uma das treze casas que estão a ser reabilitadas e que deverão estar concluídas em Setembro. O anúncio foi feito pelo vereador da Habitação, Manuel Pizarro, e pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que visitaram a ilha esta quarta-feira. 

Atrás da vedação que tem à sua porta, Ana Martins, 87 anos, espreita e fica admirada com a entrada de estranhos na sua ilha. Em Novembro do ano passado, quando as obras de reabilitação da Bela Vista começaram, foi obrigada a abandonar a casa que a viu nascer. Mas o número 10 vai, em Setembro, voltar para as mãos de quem ali vive há quase nove décadas. “Eu queria voltar à minha casa, nem que vivesse só lá mais um mês. Quero ficar lá o resto da minha vida”, disse a moradora. 

A casa de Ana é uma das treze que vão ser entregues em Setembro e que fazem parte da primeira fase de reabilitação da ilha da Bela Vista. No total, o projecto de regeneração daquele espaço da freguesia do Bonfim prevê a intervenção em 35 casas, a transformação de uma das habitações devolutas numa lavandaria comunitária e arranjos exteriores. Estes primeiros trabalhos, que começaram em Novembro do ano passado, foram orçados em 540 mil euros. Na segunda fase, serão recuperados mais 22 fogos que deverão estar prontos em Março e Abril do próximo ano, e que custaram à autarquia cerca de 805 mil euros. 

“Estas habitações serão para realojar as pessoas da ilha ainda que, em alguns casos, isso possa ser de novo um alojamento provisório porque o compromisso que temos com as pessoas da Bela Vista é que todas poderão regressar à sua casa de origem, se o desejarem”, referiu o vereador da Habitação e Acção Social, Manuel Pizarro, no final da visita à ilha.

Foi o que aconteceu com Ana Martins que teve de sair da sua casa, retirar todos os seus pertences e mudar-se para uma das habitações que estavam vazias, enquanto esperava pela conclusão das obras. “Eu estou muito contente por poder regressar. Ainda não vi como está a minha casa mas dizem que está muito bonita. Estou ansiosa por vê-la, admitiu. 

Com a constante degradação da ilha, muitos moradores foram desocupando as casas e mudaram-se para as habitações sociais da autarquia. Por isso, a recuperação daquele espaço poderá ser também uma oportunidade para várias famílias regressarem ao local onde nasceram. 

As habitações têm quatro tipologias distintas, consoante o número de quartos. Todas têm uma sala, cozinha e casa de banho. “Eu quero as minhas coisinhas lá na casa, se couberem porque agora vai ser mais pequena. Antes era um quarto, uma sala e uma cozinha. Agora é quarto, é sala, uma cozinha maravilhosa e uma casa de banho, que nós não tínhamos na casa 10. Era no balde e depois de manhã, vinha-se despejar”, refere a moradora de 87 anos. Em casos como o de Ana, que apresenta dificuldades em movimentar-se e em subir escadas, Manuel Pizarro explicou que será necessário utilizar o espaço do rés-do-chão, previsto para ser uma sala, para um pôr um quarto mais pequeno. “Isto foi feito em adequação àquilo que eram as necessidades das pessoas", sustentou. 

Mas alguns moradores alertavam o vereador da Habitação para o facto de as divisões das casas serem muito pequenas, com passagens estreitas. “Olhe que eu não caibo na casa de banho e a cama não vai caber cá em baixo”, reclamava uma moradora. Críticas que se ouviam entre rostos dos habitantes que não escondiam a satisfação por terem finalmente alcançado as obras de recuperação das suas casas, depois de anos à espera.

“O que nós estamos a fazer na Bela Vista é um processo de reabilitação física das casas mas também de regeneração urbana, porque estamos a envolver os moradores neste processo. Isto demonstra que as ilhas da nossa cidade continuam hoje a ser uma solução de habitação, não apenas para as classes populares mas para outros núcleos sociais como os jovens ou os estudantes universitários”, considerou Manuel Pizarro. 

No final da visita, Rui Moreira sublinhou que a reabilitação urbana segue “dentro dos recursos que a câmara tem”, mas que poderia seguir com outro ritmo, “mais rápido”, se o dinheiro dos fundos comunitários tivesse chegado à autarquia. "Se tivéssemos fundos comunitários outro galo cantaria. É muito difícil ser presidente de câmara e, ao fim de três anos, não ter um tusto de fundos”, notou.

No Porto, há mais 900 ilhas, a maior parte delas privadas. A câmara tem mais projectos para reabilitar as ilhas municipais que serão anunciados “nas próximas semanas”, adiantou o responsável com o pelouro da Habitação.

Texto editado por Abel Coentrão

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