Três anos depois, o Gnration ainda tenta afirmar a sua identidade

A programação cultural nem sempre tem visibilidade num espaço multifunções. Neste sábado, o aniversário assinala-se com um dia aberto, que pretende mostrar o que ali se faz.

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As portas do edifício abrem-se às 10h para mostrar à comunidade vários exemplos daquilo que tem sido a programação daquele espaço ALEXANDRE RIBEIRO/NFACTOS

Foi inaugurado há três anos, mas o tempo ainda não foi suficiente para que Braga tenha percebido bem o que é o Gnration. O director-artístico do espaço, Luís Fernandes, admite que o espaço tem “um problema de identidade”. É que, além da programação cultural, onde se destacam a música e as artes digitais, o espaço também tem um conjunto de outras funções que nem sempre parecem casar bem. Para tentar ultrapassar isso, as portas do antigo quartel da GNR abrem-se neste sábado, com uma programação gratuita que inclui concertos, exposições e programação para crianças.

O Gnration ocupou o antigo quartel distrital da GNR, no Campo da Vinha, no centro de Braga. Foi planeado para ser o principal legado da Capital Europeia da Juventude, que a cidade acolheu em 2012. No entanto, o equipamento só viria a abrir portas em Maio de 2013 e não passou imune à mudança política que viveu Braga nas últimas autárquicas, passando alguns meses praticamente sem actividade. Esse hiato também dificultou a relação do espaço com a cidade.

No entanto, o principal problema identificado pelo seu actual director é mesmo de identidade. Algo que se prende, sobretudo, com as suas múltiplas funções. No mesmo espaço estão sediados alguns serviços municipais, incluindo os gabinetes do vereadores da oposição, a Loja Europa Jovem, que dá apoio à mobilidade jovem europeia, bem como um espaço de incubação de empresas da Startup Braga. Além disso, são ali realizadas frequentemente conferências, apresentações e exposições sobre os mais variados temas. “Há coisas que não parecendo que fazem mal à primeira vista, afectam muito a percepção das pessoas sobre o espaço”, diz Luís Fernandes, para quem a grande dificuldade que oGnration hoje enfrenta é encontrar “um factor muito claro com que as pessoas se identifiquem”.

A questão não é de público, precisa Fernandes. No ano passado, o Gnration recebeu cerca de 34 mil visitantes, duplicando os números em relação ao ano anterior. A taxa de ocupação dos espaços culturais anda à volta de 80% e têm sido frequentes os concertos com lotação esgotada. A questão é mesmo fazer chegar aos bracarenses o trabalho que ali é feito. Daí que o director-artístico assuma que o seu principal objectivo a médio prazo é conseguir “ter maior legitimação local”: “Precisamos que as pessoas percebam que o nosso trabalho é válido e é importante numa cidade como Braga”.

Este sábado, o Gnration assinala o seu terceiro aniversário com uma programação que quer, de resto, responder a esse bloqueio. O programa do open day é uma espécie “de mostra daquilo que tem sido a programação do espaço nos últimos dois anos”, explica Luís Fernandes, que tem apostado particularmente na música e nas artes digitais como áreas de programação.

As portas do edifício abrem-se às 10h00 para mostrar à comunidade vários exemplos daquilo que tem sido a programação daquele espaço. A entrada em todos os eventos do dia é, por isso, livre. A manhã será particularmente dedicada às crianças, com o espectáculo para público infantil “Melopeias”, que terá duas apresentações, o workshop de programação para crianças “Coderdojo” e os Primeiros Bits, uma iniciativa cíclica da programação do GNRation que expõe crianças e jovens à relação entre as novas tecnologias e a arte.

Ao longo do dia, será possível visitar duas instalações “Non Human Device#3”, uma peça interactiva de Boris Chimp, e Urban Algae Folly extended, de Rui Dias (ver caixa). À tarde e à noite, será sobretudo a música a preencher o espaço, com concertos de Glockenwise (17h00), Sensible Soccers (22h00), Filho da Mãe (23h00) e PZ (00h00). Os Sensible Soccers regressam depois em formato DJ set, para levarem a festa do Gnration até às 4h00.

Ligação à nanotecnologia em estreia

Em Novembro do ano passado, uma espécie de nave espacial estacionou no centro de Braga. Era a Urban Algae Folly, uma escultura que integrava culturas de microalgas, por exemplo, e que era apresentada como um protótipo da cidade do futuro. Quase seis meses volvidos, o artista e sonoplasta Rui Dias, apresenta uma representação sonora a partir dessa peça. Esta será a primeira de várias colaborações entre artistas e os cientistas do Instituto Ibérico de Nanotecnologia (INL, na sigla internacional), sediado na cidade.

Essa colaboração entre o Gnration e o INLE vai “focar muita da atenção” do equipamento cultural ao longo do próximo ano, promete Luís Fernandes. O projecto, inspirado no Arts@CERN, que tem levado bandas musicais e artistas multimédia, a trabalhar junto do acelerador de partículas sediado na Suíça, vai pôr em contacto artistas visuais e músicos com os investigadores daquele laboratório de ponta, tentando tornar mais visível para a comunidade o trabalho científico que ali é feito.

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