Tratamentos do cancro em risco nos hospitais das Caldas da Rainha e Torres Vedras

Um ano depois de ter sido suspensa a preparação de citotóxicos no hospital das Caldas, foi a vez de Torres Vedras perder também essa valência.

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Os citotóxicos são utilizados em quimioterapia FERNANDO VELUDO/ NFACTOS

A administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO) suspendeu a preparação de citotóxicos na farmácia do hospital de Torres Vedras, na sequência de uma inspecção do Infarmed que detectou não conformidades nas suas instalações.

Este encerramento na linha de produção daqueles produtos, usados em quimioterapia, ocorre um ano depois de uma inspecção similar nas Caldas da Rainha ter levado também à suspensão da preparação de citotóxicos. Nessa altura, a solução para os doentes do hospital caldense foi transportá-los para Torres Vedras para receberem os tratamentos, mas dada a natureza da doença e as dificuldades nas deslocações, o CHO entendeu manter o Hospital de Dia de Oncologia das Caldas em funcionamento, passando os citotóxicos a virem de Torres Vedras.

Mas agora o CHO ficou sem capacidade para produzir aqueles produtos. De acordo com fonte oficial da administração, “a solução encontrada passa pela cedência de instalações por parte do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para a preparação de citotóxicos, continuando o CHO a ser responsável pela prescrição da medicação, pelo transporte dos medicamentos, pela medicação e pelos recursos humanos necessários à preparação dos mesmos”, o que implica a deslocação de técnicos das Caldas e de Torres a Lisboa.

A situação, contudo, é provisória, pelo que ambos os hospitais de dia de oncologia do Oeste estão em risco.

Durante um ano nada foi feito para resolver o problema das não conformidades na farmácia do hospital das Caldas. Questionado sobre o motivo pelo qual não foram feitas obras, o conselho de administração respondeu que “os investimentos necessários ainda não estão quantificados”. Uma fonte do hospital, que pediu o anonimato, deu ao PÚBLICO uma explicação mais simples: “nada foi feito porque não há dinheiro”.

E essa é a questão fulcral do Centro Hospitalar do Oeste, que engloba os hospitais das Caldas da Rainha, Torres Vedras e Peniche. Os três precisam de obras de modernização que as três autarquias não se cansam de reivindicar. Mas também se discute se não valerá a pena construir de raiz um único hospital para o Oeste que servisse toda a região.

Para as Caldas da Rainha já foi lançado um concurso público para ampliar as urgências e resolver os graves problemas de espaço daquele serviço.

Mas a farmácia e a produção de citotóxicos ficou esquecida, bem como a contratação de profissionais de saúde, sobretudo médicos especialistas, para os quais o hospital não consegue ser um empregador atractivo visto que os concursos ficam vazios. Ao mesmo tempo continuam a ser usados médicos nas urgências ao serviço de empresas de trabalho temporário enquanto outros profissionais de saúde estão há anos em regime de precários.

A passagem do regime jurídico de Sector Público Administrativo (SPA) para Entidade Pública Empresarial (EPE) tem sido apresentada como uma panaceia para resolver estes problemas, dado que a administração passaria a ter mais flexibilidade na gestão (o CHO é o único centro hospitalar generalista que ainda não é EPE). Essa promessa foi feita pelo ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, em Março de 2016 numa visita que fez às Caldas da Rainha.

Um ano e dois meses depois a promessa não se cumpriu. O PÚBLICO apurou que, pelo menos, por dois motivos: porque a passagem para EPE implica um novo conselho de administração, cuja equipa o governo não conseguiu ainda criar, e porque o processo passa também pelo Ministério das Finanças que está reticente em despachá-lo. O PÚBLICO tem questionado este ministério desde Abril, mas nunca obteve resposta.

Nas Caldas da Rainha o hospital e os seus problemas são um dos temas mais quentes da pré-campanha eleitoral para as autárquicas, com alguns partidos a criticarem a fusão (feita pelo governo anterior) dos três hospitais num único centro hospitalar e divididos entre a reivindicação de mais investimento no hospital caldense ou na construção de um grande hospital para o Oeste.

Já a passagem de SPA para EPE é minimizada pelo deputado do PCP, Bruno Dias, que há duas semanas visitou o hospital das Caldas. “Os problemas do CHO resolvem-se com vontade política e não com a alteração do estatuto”, resumiu.

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