Transporte público algarvio perde 23% de utilizadores numa década

O recurso à utilização do automóvel, mais do que uma opção, surge como inevitabilidade numa região onde “não existe um sistema integrado de transportes públicos”. Estudantes estrangeiros “estranham” a falta de ciclopistas

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Rui Gaudencio

O desordenamento do Algarve não se fica apenas pelo modelo urbanístico. A forma como estão (des)organizados os transportes públicos traduz, também, as debilidades de uma região que cresceu a pensar no turista que chega a Faro de avião e aluga automóvel para andar de praia em praia. A população residente, concluiu o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável do Algarve, prefere as deslocações em carro privado “por falta de um sistema integrado de transportes públicos”. De acordo com estudo, encomendado pela Comunidade Intermunicipal do Algarve — Amal, seis em cada dez algarvios desloca-se regularmente em viatura própria.

As dificuldades dos transportes públicos fazem com que os concelhos onde se concentra mais população — Albufeira, Loulé, Faro, São Brás de Alportel, Olhão e Tavira, o crescimento do transporte individual, numa década, tenha chegado aos 38%, enquanto que o transporte colectivo perdeu 23% de utilizadores.

O reitor da Universidade do Algarve (Ualg), António Branco, num encontro recente com os jornalistas, sublinhou essa “falta de articulação” que existe entre os vários operadores de transportes públicos. Pode parecer uma coisa simples, disse, “mas ainda não foi possível sentarem à mesa a CP e os transportes públicos rodoviários para combinarem os horários”. Por sua vez, o primeiro secretário da Amal, Miguel Freitas, confrontado com esta questão, respondeu: “Estamos a trabalhar no sentido de ultrapassar esse bloqueio”. Amanhã, adiantou, vai ser dado o conhecer o estudo, onde se mostra que o transporte individual em deslocações pendulares cresceu em média mais de 30% numa década, entre 2001 e 2011.

Os cerca de 1200 alunos estrangeiros que frequentam a Ualg (15% da comunidade estudantil) “manifestam muito estranheza por não existir ciclopista que ligue o centro da cidade aos campus da Penha e das Gambelas”, contou o reitor, lembrando as condições propídias de clima e geográficas para a introdução da mobilidade suave. A capital algarvia, sublinha António Branco, é uma “cidade universitária mas essa realidade ainda não foi assumida” pela comunidade e pelos vários poderes públicos. A questão dos transportes é apenas um dos lados do problema, destacando-se igualmente a falta de alojamento para estudantes. A universidade dispõe de 544 camas para alunos, o que não é suficiente para a procura.

De acordo com o estudo que vai ser apresentado pela Amal, os transportes públicos terão perdido cerca de 20% da quota de mercado “Já se pensou na vida de um aluno que vem [de transporte público] de Vila Real de Stº António ou Albufeira, para estar às 8h30 nas aulas?”, pergunta o reitor, lembrando que esta é uma questão que urge resolver. O certo é que, todos os dias, 10.000 pessoas deslocam-se para a universidade, utilizando o automóvel como principal meio de deslocação por falta de alternativas.

A segunda fase dos Planos de Acção para a Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS), cuja conclusão está prevista para final do ano, preconiza que haja um único bilhete que possa servir os diferentes meios de transporte publico, a criação de uma plataforma electrónica para a consulta dos horários, que passarão a ser concebidos de forma integrada. Actualmente o que se verifica, constata o estudo, são vários disfunções ao nível da rede de transporte público. Por exemplo: um passageiro que viaje de Monchique ou Silves para Lagos tem de se sujeitar a transbordos que nunca demoram menos de um quarto de hora. Outra situação anacrónica: Para se chegar do campus universitário das Gambelas a Vilamoura de transportes públicos leva-se quase duas horas para percorrer 25 quilómetros.

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