Soluções de estacionamento no Eixo Central não serenam moradores

A Câmara de Lisboa anunciou que vão ser disponibilizadas 165 avenças em parques subterrâneos e prometeu reservar 68% dos lugares à superfície na Av. da República para residentes.

Foto
Segundo a câmara, com esta obra os lugares à superfície na zona baixam de 619 para 319 Pedro Cunha

Por 25 euros por mês, os moradores na zona do Eixo Central, cuja obra de requalificação deverá começar em Abril, vão pode deixar o seu carro num parque de estacionamento subterrâneo privado. Segundo o vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, foi já fechado um acordo para a disponibilização de 165 lugares.

O anúncio foi feito esta segunda-feira numa sessão pública de esclarecimento sobre a obra, que decorreu no Mercado 31 de Janeiro e que juntou cerca de 200 pessoas. O objectivo da sessão, convocada pela autarquia, era debater “as questões do planeamento e faseamento da obra, do estacionamento e dos condicionamentos de trânsito”.

Tal como aconteceu em Outubro, num plenário sobre o mesmo tema convocado por duas associações de moradores, os ânimos exaltaram-se. E não foi preciso esperar muito: cerca de cinco minutos depois de a sessão ter começado já se ouviam gritos e palavras de protesto da assistência, que obrigaram o director do departamento de projectos de espaço público a interromper a sua intervenção.

“Ou arranjam outras instalações ou vamos embora”, gritou um dos presentes, queixando-se do facto de não conseguir ver a apresentação que estava a ser projectada. “Estamos aqui a perder o nosso tempo. Isto assim não é nada”, atirou outro, enquanto um terceiro criticou o facto de não terem sido previamente disponibilizadas as imagens que estavam a ser exibidas.

Face aos protestos, feitos de forma exaltada e cortando a palavra dos oradores, o vereador do Urbanismo, do Espaço Público e das Obras Municipais chegou mesmo a sugerir que a sessão fosse interrompida e remarcada para um local onde todos conseguissem ver a projecção. Algo que só não aconteceu porque a mesa junto à qual estavam sentados os presidentes das juntas de freguesia de Arroios e das Avenidas Novas foi rearrumada para que sobre ela fosse colocada a tela de projecção.

Situação resolvida, a sessão prosseguiu, mas durante as horas que se seguiram abundaram as críticas ao executivo camarário e ao projecto para o Eixo Central, boa parte delas num tom agressivo e pouco cordato.

Como tem acontecido sempre que é discutida a requalificação do Eixo Central, entre o Marquês de Pombal e o Campo Pequeno, o estacionamento voltou a ser uma das questões mais polémicas. Segundo dados anteriormente divulgados pela câmara, com esta obra os lugares à superfície caem de 619 para 319.

A esse nível, o vereador Manuel Salgado anunciou esta segunda-feira que o município chegou a acordo com operadores privados para que sejam reservados 165 lugares para moradores nos seus parques: “100 no parque do Campo Pequeno, 50 no Picoas Plaza e 15 na Duque d’Ávila”.

Segundo o autarca, a utilização mensal desses parques, por 24 horas por dia, terá um custo de 25 euros. “Obviamente é uma tarifa que não é a mesma que se pagaria na via pública, mas também não é a do mercado”, afirmou, acrescentando que estão ainda em curso “negociações com outra entidade que gere vários parque na zona” para que seja possível ir além dos 165 lugares agora anunciados. 

Além disso, Manuel Salgado fez saber que 68% dos lugares de estacionamento à superfície na Avenida da República serão reservados para os moradores.

As explicações da câmara não convenceram muitos daqueles que assistiam à sessão. “Onde é que eu ponho os miúdos pequenos enquanto vou estacionar o carro? Deixo a minha mãe de 87 anos sozinha à porta?”, perguntou um dos membros da assistência.

“Eu julgava que iam fazer um parque por baixo, obviamente grátis para os moradores”, reagiu outro, manifestando-se contra a opção de se criarem duas ciclovias, por estas irem alegadamente traduzir-se na perda de lugares de estacionamento.

Já o presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas, José Soares, e o vereador do CDS na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira, consideraram excessivo o preço que vão ter as avenças para residentes, quando comparadas com o valor do dístico anual da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa.

Também na assistência estava o presidente do Automóvel Club de Portugal, que considerou que este “é um projecto de conflitos”. “Contra quem passa no Eixo Central, contra os carros e contra os moradores”, afirmou Carlos Barbosa, que acusou a câmara de querer com esta obra “embelezar mas sobretudo retirar carros da cidade”.

“As pessoas estão aqui porque vão ser altamente prejudicadas por este projecto”, disse o também deputado do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa, que apelou ao “bom senso” do executivo presidido por Fernando Medina.

Para outra moradora da zona, avançar com este projecto significa “maltratar” os que vivem nesta zona de Lisboa, e transformar a sua vida num “inferno”. “Por favor não façam isto”, gritou a dada altura outro munícipe, enquanto outro membro da assistência defendeu que seria melhor “poupar” os 7,5 milhões de euros que vai custar esta intervenção.

Pelo meio, o vereador Manuel Salgado foi tentando passar a mensagem de que este é um projecto que vai contribuir para tornar a capital “mais saudável”, “mais sustentável”. “É claro que não queremos prejudicar ninguém”, afirmou também, garantindo que esta obra “não é contra o estacionamento, é a favor das pessoas” e que “tudo” o que for ainda possível “aperfeiçoar” será aperfeiçoado. 

Sugerir correcção
Ler 10 comentários