Sofia Ferreira vai ser uma utilizadora do novo @ndante

Estudante de direito no Porto ganhou uma assinatura de seis meses pelo uso frequente de Transporte Público na região.

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Fernando Pinto e José Carlos Oliveira vão viajar de graça seis meses. Nelson Garrido

Sai de Pedras Rubras todos os dias, em direcção à Universidade Lusíada, no Porto, onde frequenta Direito. A rotina faz-se em quase uma hora a pé, na fiabilidade do metro e no menos fiável serviço da STCP, mas a jovem de 20 anos, que até tem carta de condução, não tem dúvidas das vantagens de viajar em transporte público. Sofia Ferreira já os usou, este ano, mais de 2020 vezes, o que lhe valeu um prémio de seis meses de viagens pagas, entregue esta sexta-feira, dia de apresentação do futuro @ndante mobile.

Em meados de 2017, Sofia Ferreira espera vir a usar o novo cartão virtual, uma aplicação para telemóvel que a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto vai desenvolver com a empresa Transportes Intermodais do Porto (TIP) e que lhe poupará, por exemplo, à dificuldade de ter de decorar o número de zonas que atravessa para as suas deslocações diárias. A simplificação da relação dos clientes com a complexa rede de transportes da região é uma das vantagem do novo serviço, como assinalou Jorge Moreno Delgado, presidente da Metro do Porto e da TIP.

Cerca de 70% dos utilizadores do Andante têm, como Sofia, menos de 35 anos. E é claramente para estes, num primeiro momento, que a TIP se vai dirigir, para os tentar convencer a trocar os cartões que já foram, em 2003, uma inovação, por trazerem, para Portugal, a intermodalidade (um único cartão em vários operadores), com tecnologia sem contacto. Todos os anos, ainda se vendem três ou quatro milhões de títulos em papel e agora os responsáveis pelos transportes na Área Metropolitana do Porto querem ir mais longe, desmaterializando o título numa app que, no fim do mês, nos enviará a conta para casa. Por mail, de preferência.

Fernando Pinto e José Carlos Oliveira já não estão tão interessados nesta novidade. O primeiro, um reformado de 71 anos, morador em Matosinhos, fez 2910 viagens em autocarro e metro, para passar o tempo, e gasta mais de 10% da sua pensão, de 305 euros, em transportes. Os seis meses de viagens gratuitas que ambos ganharam, como Sofia Ferreira, é um bom presente, assume o recordista, que não tem queixas a apresentar sobre o serviço que lhe é prestado.

Mas Fernando Pinto é uma excepção, e o próprio ministro do Ambiente admitiu-o. Presente nesta cerimónia, Matos Fernandes assumiu que o salto qualitativo dado em serviços ambientais como o abastecimento de água ou o tratamento de resíduos não teve paralelo no serviço (ambiental, também, insistiu) de transporte público. Há muito por fazer (na cobertura, nos horários, nas frequências e na integração tarifária), mas o governante elogiou o trabalho feito no último ano na Área Metropolitana do Porto, que assumiu o papel de autoridade de transportes que redundou, esta sexta-feira, na entrada de mais 36 linhas de autocarro de operadores privados no Andante.

Marco Martins, coordenador político deste sector na AMP e autarca de Gondomar, garantiu que segunda-feira esta entidade vai trabalhar para garantir o alargamento do zonamento Andante a toda a área metropolitana, passo essencial para negociar, com as transportadoras, a adesão ao sistema intermodal, que implica a repartição das receitas dos bilhetes pelos vários modos utilizados numa deslocação. A AMP passa a ter 165 linhas de autocarro a funcionar em rede com o metro e parte do serviço urbano da CP (que na Linha do Minho vai aceitar o Andante até à Trofa, em Janeiro), mas o grosso das 988 carreiras de transporte rodoviário atribuídas nos 17 concelhos ainda está de fora e há uma grande negociação a fazer.

O clima parece no entanto favorável um alargamento da oferta intermodal. Marco Martins agradeceu a “cobertura política e o empenho do ministro” e elogiou a equipa de cerca de 20 elementos que, na área metropolitana, fazem a ponte com os autarcas dos 17 concelhos envolvidos nesta área. Já Matos Fernandes insistiu na urgência de aumentar a utilização do transporte público, factor "essencial" para o cumprimento das ambiciosas metas de diminuição de emissões inscritas no Acordo de Paris, que o Parlamento português vai ratificar dentro de dias. Para ganhar mais clientes, Jorge Delgado considera fulcral conseguir convencer a geração de Sofia a não comprar carro. E é também por isso que, desde esta sexta-feira também, o serviço Wi-fi que a STCP disponibilizava, dentro dos autocarros, no Porto, passou a estar disponível nos seis concelhos onde opera. Em Gaia, onde a pudemos testar, funciona.  

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