Que andam a fazer escritores portugueses e galegos em Chaves? Uma ponte

Não se trata de engenharia, mas de escrita. É o II Encontro Luso-Galaico de Escritores da eurocidade Chaves-Verín e chama-se Ponte Escrita. Começou nesta quinta-feira e nasceu de um orçamento participativo. Nem todos preferem muros

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Adriano Miranda

Durante quatro dias, escritores dos dois lados da fronteira entre Portugal e Espanha partilham personagens, histórias, conhecimentos e boa mesa. Também haverá quem vá desenhando tudo isto. O ilustrador e autor de diários gráficos Richard Câmara junta-se mais uma vez ao Ponte Escrita, registando momentos e espaços do encontro.

A poesia será escutada na voz de André Gago e Filipe Lopes, a que se juntarão outros profissionais das palavras e da expressão dramática, como Rosalía Fernandez Real e Fran Alonso. Estimular a leitura, a escrita e dar a conhecer a região são propósitos de um encontro que nasceu a partir do projecto vencedor do orçamento participativo de 2015 do município de Chaves.

A manhã iniciou-se com “Leituras endiabradas” na Biblioteca Municipal de Chaves, numa sessão que se repetiu à tarde na Biblioteca de Verín. A partir da leitura do livro Histórias do Trasgo Rasgo de Pedro Sena-Lino, João Morales percorreu o “imaginário transmontano e galego sobre duendes, trasgos e outros diabretes, criaturas inquietas e inquietantes a quem, ao longo dos tempos, foram atribuídas muitas maldades e traquinices para explicar inquietudes da vida quotidiana”.

Nesta sexta-feira, escolas, bibliotecas e “todos os lugares onde os livros, a gente e as palavras se encontram” vão receber e conhecer os participantes no encontro: Ana Cristina Silva, André Gago, António Mota, Ernesto Areias, Fausta Cardoso Pereira, Fernando Pinto do Amaral, Filipe Lopes, Fran Alonso, Inês Botelho, João Morales, José Leon Machado, Margarida Fonseca Santos, Maria de Lourdes Soares, Possidónio Cachapa, Rosalía Fernández Rial, Richard Câmara e Rui Sousa.

No ano passado, houve 1100 alunos a contactar com os escritores, informam os organizadores, Altino Rio e Sílvia Alves. Relevando a boa receptividade dos vários níveis de ensino, incluindo os do Instituto do Emprego e Formação Profissional. 

Também na sexta-feira haverá sessões na biblioteca (“O país das chaves e outros países imaginados”), no Estabelecimento Prisional de Chaves (“A poesia não tem grades”) e na Universidade Sénior (“Poesia portuguesa musicada”).

Cada encontro, um livro

No sábado, serão os escritores a conhecer a eurocidade e a nela se inspirarem para criar textos que serão depois publicados em livro. A edição que resultou do I Encontro está disponível desde o final de 2016 e tem por título KM 0. O Museu Aquae Flaviae, as Termas Romanas e o Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso também farão parte do roteiro dos autores, tendo por guia o arquitecto Luís Geraldes.

Às 21h30 de sábado, realiza-se o que a organização chamou “Da biblioteca à praça — histórias de livros e escritores”. São conversas com leitores que acontecem na Biblioteca Municipal de Chaves e na Praça General Silveira.

Durante todos os dias da Ponte Escrita, a livraria Traga-Mundos instala-se no Café Sport, onde haverá lançamentos de livros e sessões de autógrafos. 

O presidente da Câmara de Chaves, António Cabeleira, disse, na conferência de imprensa de lançamento da 2.ª edição do encontro, esperar que, “independentemente dos ciclos eleitorais, este projecto venha a festejar 25 anos e 50 anos”.

O Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Eurocidade Chaves-Verín beneficia das verbas atribuídas pela União Europeia (1,5 milhões de euros) no âmbito do programa Interreg 2014-2020 Espanha-Portugal, tendo visto aprovados projectos que “reforçam a coesão económica e social do território transfronteiriço”. Pontes em vez de muros.

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