Universidade do Porto recebeu 4 mil estudantes internacionais este ano

Universidade do Porto bateu recordes. Nesta quarta-feira foi a cerimónia de boas-vindas dos 978 alunos que chegaram para o 2º semestre.

Foto
NFACTOS / FERNANDO VELUDO

Bandit vem de Laos e confessa que “lá, daqui, só conhecem o futebol do Ronaldo”. Antes, nunca tinha saído do país que tem a norte a China, a leste o Vietname e a sul o Camboja. “São muito diferentes de Portugal”, ri. Bandit é um dos alunos de 129 nacionalidades que representam já 14% do total da comunidade estudantil da Universidade do Porto.

Escolheu o Porto por causa do programa de engenharia, mas o “clima”, “a cidade” e “principalmente as pessoas” convenceram-no que a escolha foi, afinal, “mais que acertada”. Fez as malas para um ano e, agora, já vai começar o segundo. “Preferia ficar aqui a trabalhar mas a minha mãe, provavelmente, vinha-me buscar”, afirma. Ri-se muito e não percebe “porque é que os portugueses não se riem mais”. “Vocês, aqui, têm tudo”, diz como se já tivesse “saudades”, a palavra “mais portuguesa” que conhece.

Na praça dos Leões, em frente à reitoria, como em tantas outras tardes, a tuna masculina de Direito actua para cerca de 300 estudantes que, de telemóvel na mão, começam a gravar as primeiras memórias de um semestre passado longe de casa. “É fado, não é?”. “Agora parece o circo”, comenta, por cima do som das pandeiretas, uma rapariga de olhos muito azuis e cabelo muito loiro.

Depois da sessão oficial de boas-vindas que a universidade organizou, esta quarta-feira, para os estudantes internacionais, com direito a rissóis e bola com chouriço, Mathias sai para a praça dos Leões com o à-vontade de quem já lá passou muitos dias e outras tantas noites divididas entre o Piolho e a Adega Leonor. Ao fundo, alguns alunos já pegaram nos skates. É alemão mas não hesita em apresentar-se em português. Ao contrário de Bandit, já viajou muito e chegou a ser presidente da associação de apoio aos estudantes erasmus da cidade onde estuda, Karlsruhe, perto da fronteira com França. Fez um curso de português lá, uma hora por semana durante seis meses, mas, quando chegou a altura da prova, o melhor que conseguiu foi “falar portunhol”.

Agora, seis meses depois de conviver com nativos da língua portuguesa, já entende, fala e canta em bom português. Como ele, há muitos outros estudantes internacionais que já chegam a conhecer a língua, não só para as aulas, muitas ainda leccionadas só em português, mas para ajudar a se sentirem “menos estrangeiros”. Quem vem, nunca chega realmente a ir embora. “Conheço muitos que foram agora embora no final do semestre e já compraram bilhetes para virem fazer uma visita”, conta.

Este semestre começa com quase mais mil estudantes internacionais espalhados pelas faculdades da UP, grande parte brasileiros. Luísa acha que a razão da UP ter recebido, este ano, 903 alunos vindos de terras de Vera Cruz é porque Portugal é “a origem do Brasil”. “Nós gostamos de conhecer de onde vêm alguns hábitos, os nossos costumes”, completa Juliana. Estão cá há três semanas e já encontram mais semelhanças do que diferenças em relação às pessoas que deixaram em casa. “Ainda é cedo, mas o comodismo e a corrupção também parecem andar por cá”, dizem a medo. Iam ficar por um semestre, mas já estão decididas a alongar a estadia por mais seis meses.

O reitor da Universidade do Porto sublinhou o papel “fundamental para o diálogo intercultural” que os programas de mobilidade internacional têm. “A educação humanitária é fundamental”, sublinhou esta tarde perante os novos estudantes.

Os números dos programas de mobilidade internacional de programas como o Erasmus continuam a bater recordes. Brasil (903 estudantes), Espanha (213) e Itália (181) são as nacionalidades que juntam mais alunos este ano. Mas o “mapa” que a UP constrói no Porto junta países como a Alemanha (117), Polónia (96), República Checa (71), França (60), Turquia (50) e México (34). A listagem também inclui o Cambodja, China, Ilhas Fiji, Malásia, Palestina, Israel, Madagáscar, Argélia ou o Quirguistão.

Texto editado por Ana Fernandes

Sugerir correcção
Comentar