Ponte de Silves pode cair a qualquer momento, mas a população continua a usá-la

A autarquia encerrou a travessia e quer agora ver reconhecido o estatuto de "património cultural" da ponte para que a sua requalificação integre o orçamento de financiamentos comunitários.

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Um relatório de 2008 já alertava para os perigos de instabilidade da construção Carlos Lopes/Arquivo

A ponte de Silves, no Algarve, está temporariamente interdita devido ao perigo iminente de queda, detectado há vários anos e agora agravado. A população foi avisada e a passagem cortada através de uma rede metálica fixada ao solo a 5 de Agosto. No entanto, e apesar de os alertas de perigo e da existência de uma passagem alternativa sobre o rio Arade a menos de 100 metros, a população tem desobedecido à interdição e continua a utilizar a ponte para atravessar as duas margens.

A autarquia apela agora ao reconhecimento do “valor cultural e patrimonial da ponte” para que a sua requalificação possa ser financiada por fundos comunitários. “Já temos o projecto de requalificação todo programado”, conta ao PÚBLICO Rosa Palma, presidente da Câmara Municipal de Silves. “O nosso objectivo é incluir esta obra, orçamentada em cerca de 400 mil euros, na lista de prioridades dos fundos comunitários.”

A ponte, marcada pelos seus cinco arcos e por marcas de diferentes estilos arquitectónicos, tem a sua origem discutida entre a incerteza dos períodos da época romana, do domínio islâmico ou ao final da Idade Média, apesar de ser conhecida entre a população como "Ponte Romana". Não obstante, indiscutível é, para a autarquia, a sua importância como “património cultural”.

A câmara argumenta por isso que “o Estado devia reconhecer que a ponte tem esse valor e comparticipar de alguma forma o financiamento” da reabilitação. Para isso, a autarquia conta com o apoio do Ministério da Cultura. “Neste momento e no orçamento deste ano não temos um valor disponível para as obras de recuperação, conservação e restauro da ponte”, explica a presidente de câmara. No entanto, Rosa Palma garante que caso não exista esse “reconhecimento”, a autarquia “tudo fará para que o património não seja perdido”.

O risco de queda da Ponte Velha de Silves está assinalado há vários anos. Em Novembro de 2008 foi feita uma vistoria por parte do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) onde foram identificadas patologias e fenómenos de degradação que afectam a ponte. “Foi salientado desde logo a existência de um risco de colapso parcial”, detalha Maxime Sousa Bispo, porta-voz do gabinete de apoio à presidência da autarquia. “O anterior executivo não fez nada no sentido de suprimir estas anomalias existentes”, afirma.

O relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de 2008 voltaria à mesa em 2013 com a tomada de posse do novo executivo, que avançou com um investimento para elaborar um projecto de restauro. “O estudo diagnóstico para a requalificação, elaborado e entregue e Novembro de 2015, veio confirmar o relatório de 2008, salientando o agravamento dos fenómenos de deterioração”, nota o porta-voz da autarquia.

A presidente da câmara de Silves adiantou ao PÚBLICO que se irá candidatar aos fundos comunitários, mesmo caso não exista reconhecimento “da prioridade desta obra na inclusão do programa de financiamento”. A autarca acredita que “o mapeamento [de obras a financiar] que já existe não é vinculativo” e por isso garante que irá ser “persistente”.

Para já, uma das preocupações da autarquia é insistência da população em continuar a usar a ponte, apesar de estar interdita, justamente para garantir a segurança das pessoas. A autarquia afirma que saíram vários avisos, “quer no site ou Facebook da autarquia e na imprensa local, para além da sinalização no local para consciencializar as pessoas contra o perigo” e até a GNR já foi alertada, mas “a tradição de utilizar aquela travessia” e a “desvalorização dos avisos e perigos a ela associados” preocupa a câmara de Silves.

“É como os casos das arribas nas praias. As pessoas estão avisadas do perigo que correm, mas insistem em manter os seus hábitos, independentemente dos riscos em que se colocam”, compara a autarca. A situação é tal que, apesar de existir uma alternativa nas proximidades, a Câmara Municipal de Silves está a avaliar a construção de uma passadiço provisório, se conseguir uma proposta menos dispendiosa do que uma que lhe foi apresentada. 

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