Percurso urbano dos autocarros que vão substituir o metro em Coimbra ainda por definir

Estudo descartou construção do túnel de Celas, mas não especifica ruas por onde passarão veículos eléctricos. Autarcas querem ver sistema em funcionamento.

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Em Miranda do Corvo e na Lousã o ministro foi recebido por alguns manifestantes LUSA/PAULO NOVAIS

O governo apresentou nesta sexta-feira a solução para ligar Lousã a Coimbra e a Baixa da cidade aos hospitais, mas o trajecto urbano ainda não está definido. O sistema de mobilidade do Mondego vai ter autocarros eléctricos a circular e o estudo do Laboratório Nacional de Engenharia Civil que fundamenta a solução técnica introduz algumas alterações em relação a antigos projectos. Um desses exemplos é o túnel de Celas, uma estrutura de 400 metros cuja construção não vai avançar, segundo Cristina Laginha, da Infraestruturas de Portugal, por não ser “viável”, devido a questões “geológicas e de património”.

O metropolitano ligeiro de superfície atravessaria o Jardim da Sereia, entrando a seguir no túnel. Sem essa estrutura, os autocarros não passarão pelo espaço verde, mas a solução ainda não está definida.

Cristina Laginha reconhece que a zona de Celas, já próxima dos Hospitais da Universidade de Coimbra, “é o nó mais preocupante da rede” e refere que “não há alternativas fáceis para a circulação”. Mas isso terá que “ser estudado em conjunto com a autarquia”. Nessa zona, “o canal dedicado está fora de questão” e terá que ser partilhado, disse a técnica aos jornalistas.

Sobre o trajecto, o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, disse que o metrobus circulará em canal dedicado entre Serpins e Coimbra e, chegado à cidade, o veículo terá um “canal preferencial”. Nesse sistema será dada prioridade aos autocarros eléctricos para “garantir tempos de circulação”. No percurso urbano, o metrobus “pode funcionar em algumas zonas” na mesma faixa que os autocarros da cidade.

À questão dos jornalistas sobre se essa solução representaria apenas mais uma linha de autocarros na cidade de Coimbra, o ministro respondeu que “não é de todo”. “Quando há uma aproximação de um destes veículos há barreiras que determinam a paragem do resto da circulação e passagem do sistema do metrobus”.

O custo da instalação do sistema de autocarros eléctricos para percorrer os 41 quilómetros de linha ronda os 90 milhões de euros, contando com infra-estruturas e veículos. No percurso suburbano, o metrobus vai funcionar em canal dedicado e em via única, com pontos de cruzamento nas estações. O presidente da LNEC, Carlos Pina, acrescenta ainda que o tempo de vida útil dos veículos é de 15 anos. Ao fim desse período, a frota tem de ser renovada.

A apresentação do estudo encomendado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) ao LNEC estava inicialmente prevista para Janeiro. O ministro lamentou o atraso, mas disse favorecer “a qualidade das soluções em detrimento de um calendário mais apertado”. O documento refere que é possível pôr o sistema em funcionamento num prazo de três anos e meio, ou seja, não estará na estrada antes de 2021. Pedro Marques compromete-se com a data limite.

Com este desenlace, coloca-se uma interrogação sobre o futuro da Sociedade Metro Mondego (SMM). A sociedade tem o objecto principal fixado nos estatutos, sendo esse “a exploração, em regime de concessão atribuída pelo Estado, de um sistema de metro ligeiro de superfície nas áreas dos municípios de Coimbra, Miranda do Corvo e Lousã”. Pedro Marques, que percorreu os três concelhos na manhã desta sexta-feira para apresentar a solução do governo, diz que o futuro da SMM “está em aberto”.

Autarcas saúdam o projecto

Com mais ou menos entusiasmo, os autarcas dos três municípios por onde passará o sistema de mobilidade do Mondego (os três socialistas e candidatos à re-eleição nas autárquicas deste ano) dão luz verde ao projecto.

Em Coimbra, o presidente Manuel Machado socorreu-se de Deng Xiaoping para dizer que “não importa se o gato é preto ou branco, desde que cace os ratos”. O autarca entende que é importante que se instale um meio de transporte, independentemente do material circulante. “O que é preciso é que haja um equipamento adequado a transportar pessoas – em grande quantidade, com rapidez, com conforto e de forma ambientalmente sustentável – nos trajectos em que há necessidade e em que há procura”.

Manuel Machado lembrou ainda que o seu executivo “nunca fez finca-pé nos carris”. “Não vamos discutir se a solução com carris era melhor ou pior do que com pneus”, afirmou.

Já em Miranda do Corvo, o autarca Miguel Baptista disse que a solução governamental não corresponde à que era defendida pela autarquia mas que, “entre nada e esta solução, vamos, um pouco contrariados, aguardar pela execução do sistema". Citado pela Agência Lusa, Miguel Baptista mostrou-se esperançado no funcionamento do sistema.

Na Lousã, que recebeu a primeira apresentação da manhã, o presidente Luís Antunes afirmou que a proposta do governo oferece “confiança e esperança”. O autarca notou a demora do processo e sublinhou “alguns avanços e muitos recuos e expectativas defraudadas."

Bloco de Esquerda e PCP já anunciaram que querem o ministro no Parlamento para explicar a opção. Os partidos defendem uma solução ferroviária para o Ramal da Lousã, que teve a circulação suspensa em 2009. Os carris foram levantados para ali se construir um metro ligeiro de superfície que nunca chegou a circular.

Em Miranda do Corvo e na Lousã o ministro foi recebido por alguns manifestantes, que protestavam contra a solução escolhida pelo governo, conta a Agência Lusa. O Movimento de Utentes de Serviços Públicos e o Movimento Lousã pelo Ramal também deram conta da sua oposição ao metrobus. Em Coimbra não ouve contestação. 

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