Parlamento recomenda ao Governo que volte a proibir caça na Malcata

CDS votou contra e PS absteve-se. Autorização para caçar na reserva natural fora dada pelo Governo em Fevereiro, 23 anos depois da sua proibição.

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A caça tem vindo a tornar-se uma actividade cada vez mais para elites Enric Vives-Rubio

A Assembleia da República aprovou esta sexta-feira dois projectos de resolução do Bloco de Esquerda e do PAN – Pessoas-Animais-Natureza que recomendam ao Governo que volte a proibir a caça na Serra da Malcata. A bancada do PS, no entanto, absteve-se na votação dos dois diplomas e o deputado socialista Ascenso Simões votou contra, ao lado do CDS-PP.

A autorização para caçar na Serra da Malcata foi dada pelo Governo de António Costa ao fazer publicar uma portaria no início de Fevereiro que revogava uma outra de Agosto de 1993 que proibiu as actividades cinegéticas naquela reserva localizada entre Penamacor e o Sabugal, abrangendo uma parte dos distritos de Castelo Branco e da Guarda, mesmo junto à fronteira com Espanha. O caso tornou-se de imediato polémico.

A Serra da Malcata tem sido um dos locais onde que se tem tentado reintroduzir o lince ibérico, considerado como espécie em perigo e inscrito na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais. O símbolo da reserva natural é precisamente o lince ibérico.

“Na maioria do território português é possível exercer a actividade cinegética, sendo muito poucas as áreas no território nacional onde não se caça. Não são necessárias mais áreas de caça. Esta decisão do governo carece de fundamentação científica e política”, afirma o PAN, argumento subscrito também pelo Bloco, que também salienta que entre os riscos que o lince ibérico enfrenta na reserva, além da destruição do habitat, está o abate a tiro.

Os partidos somam mais duas espécies em risco à do lince – o lobo e o abutre-preto – e dizem ainda que a recuperação das populações de corço, veado ou coelho, que têm sido alvo de projectos na zona, poderá ficar igualmente em causa. E lembram as dificuldades financeiras da reserva que a impedem de ter vigilantes da natureza suficientes para fazer o controlo da área onde a caça furtiva é já hoje um problema.

O PAN diz que a decisão do Governo é “um crime contra os seres que habitam a Malcata, contra a natureza e a biodiversidade, sem qualquer fundamentação científica e política que só favorece o lobby cinegético numa área crucial para a conservação da biodiversidade”.

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