Para fugir à morte, 650 galgos de Macau podem vir para Borba

Presidente da associação Anima Macau já se reuniu com o ministro da Agricultura português, a quem apresentou um requerimento a solicitar a transferência para Borba dos animais.

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Corrida de galgos em Macau Manuel Roberto

Para tentar salvar os galgos que correm numa pista em Macau, há quem queira criar um imenso canil em Borba para acolher os cães. O ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural (MAFDR), Luís Capoulas Santos, recebeu no passado dia 27 de Dezembro, o presidente Sociedade Protectora dos Animais de Macau, Albano Martins, que apresentou um requerimento solicitando autorização para a importação de 650 galgos, provenientes do Canídromo instalado na ex-colónia portuguesa.

O MAFDR refere ainda ter recebido de Albano Martins a indicação que o concelho de Borba “poderá vir a acolher”, a partir de 2018, um centro internacional para realojar os galgos e animais abandonados. “Até já existe um projecto” para a sua construção num terreno que “deverá ter entre 30 e 50 hectares”, acentuou a tutela.

A escolha de Portugal para receber os animais tem por finalidade “promover a sua distribuição por organizações congéneres, tendo em vista a sua adopção.” Por outro lado, Albano Martins, economista, adiantou ao PÚBLICO que já está “apalavrado” um terreno “mas procuramos outro que ofereça melhores condições de acesso. O presidente da sociedade protectora conhece bem a região do Alentejo: já foi presidente do concelho directivo da Escola Secundária de Estremoz    

A sociedade protectora tomou conhecimento, em 2011, da “terrivel situação” em que viviam os galgos que corriam no Canidromo de Macau. “Todos eram mortos sem que existisse um qualquer programa de adopção”, observa Albano Martins.

A associação propõe-se a acolher os animais ainda antes do término da concessão da pista de corridas para galgos em 2018. Tentaram junto do Governo de Macau encontrar condições para gerir o espaço do Canídromo por um ano e conseguir resolver definitivamente a questão dos animais, mas não houve resposta.”Não tivémos mais margem de manobra e passámos a liderar o processo, a nível local e internacional, com quase duas centenas de organizações mundiais a apoiarem-nos.” O encerramento da pista, “por decisão do Governo de Macau”, em 2018, é o objectivo refere Albano Martins, frisando que antes de ser tomada esta decisão já tinham  “bloqueado o envio de galgos da Austrália, único fornecedor até 2015 e depois bloqueámos o envio de galgos vindos da Irlanda em Abril de 2016.”

O dirigente da sociedade protectora receia que “os animais possam estar todos mortos antes que a concessão termine. No Canidromo de Macau “chegaram a ser abatidos 30 animais por mês”, revela Albano Martins, classificando a pista de corrida de galgos “como a mais cruel e com a maior taxa de acidentes do mundo” e uma “herança da administração colonial portuguesa que mancha o bom nome de Portugal.”  

 Christine Dorchak, presidente da maior organização de protecção de galgos, a GREY2K USA Worldwide, confirma que a “pior pista de corrida de cães do mundo é a de Macau” porque nenhum cão “sai de lá vivo”.

Chegada em 2018

Se tudo correr conforme planeado, a Sociedade Protectora dos Animais de Macau espera abrir as portas de um centro no Alentejo, no início de 2018. Os animais virão num vôo charter para o aeroporto de Lisboa “de acordo com carta recebida do Gabinete do  Ministro da Agricultura”, salienta Albano Martins.

A sociedade protectora “ já tem o apoio de dezenas de organizações internacionais de protecção de animais que permitirão escoar esses animais” assinala o dirigente associativo. O investimento inicial nesta infraestrutura “é de cerca de 5 milhões de euros e terá um orçamento anual de aproximadamente 800 mil euros” acrescenta o presidente da organização.

Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, o ministro da Agricultura adianta que o requerimento da associação já foi “encaminhado” para a Direcção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), organismo competente para autorizar a entrada de animais no país. Esta entidade já analisou o processo e informou a associação macaense que a entrada em Portugal dos 650 galgos “só poderá ser autorizada se os cães forem colocados em um ou mais alojamentos (com ou sem fins lucrativos) devidamente autorizados pela DGAV”, de acordo com os requisitos estabelecidos na lei.

Mas mesmo que esta premissa seja cumprida, a DGAV adverte que a sua entrada “terá de obedecer a um vasto conjunto de regras sanitárias e de transporte e os galgos têm igualmente que ser submetidos a diversos controlos veterinários e administrativos”. Este conjunto de exigências já foi comunicado a Associação com a indicação de que estas condições terão de ser cumpridas.     

“Não haverá entraves à entrada de tantos animais, pois satisfaremos todos os requisitos legais exigidos pela legislação portuguesa e europeia” garante Albano Martins, assinalando que o centro estará aberto par acolher cães utilizados na caça tanto em Portugal como em Espanha e que “são abandonados em muito más condições.”

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