O Lusitano quer fazer jus à nova casa: nas Escolas Gerais é para educar

O centenário clube lisboeta sobe a encosta de Alfama e vira a página para um novo conceito. Em vez das animadas festas e concertos que o tornaram famoso, o Lusitano quer ser um pólo de educação digital.

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O clube passou para os números 25 e 29 da Rua das Escolas Gerais, em Alfama Miguel Manso

Tentar, reinventar, recomeçar. São estas as palavras que João Campos mais repete quando se aventura a falar do futuro do Lusitano Clube. Ainda é quase tudo uma incógnita, mas há pelo menos uma certeza que o dirigente encara como boa notícia: a centenária colectividade já tem nova casa – e é em Alfama.

Em Março passado, o Lusitano despediu-se da sua sede histórica na Rua São João da Praça, ao lado da Sé, com um concerto de Marante que encheu de pessoas todos cantos das amplas instalações. Agora, o clube sobe a encosta e instala-se nas Escolas Gerais, paredes meias com São Vicente de Fora e vista privilegiada para os eléctricos 28, que roçam a porta de entrada a cada dez minutos.

Já há muitos meses que se sabia que o clube teria de ir embora da Rua São João da Praça, mas depois da despedida oficial ainda se seguiram muitas semanas de impasse, enquanto a direcção do Lusitano e a Câmara Municipal de Lisboa negociavam o arrendamento de uma nova sede.

Esta, nos números 25 e 29 das Escolas Gerais, é bem mais pequena do que aquela que o Lusitano teve entre 1905 e 2017. E isso leva-nos de volta ao início deste artigo: a necessária reinvenção de um clube centenário sem o espaço de outrora. “Temos de ser diferentes. Temos de reinventar-nos. Queremos mostrar à câmara que não apoiaram uma colectividade da treta”, diz João Campos, membro da direcção que há cerca de dois anos começou a dinamizar o clube com concertos, aulas e workshops vários.

Tal como quando chegaram, João e os colegas querem novamente marcar a diferença. “Vamos apostar na formação em programação e literacia digital para adultos”, explica o dirigente, acrescentando que a ideia é “tentar criar uma comunidade de aprendizagem, de troca de informação e conhecimento”.

O lema do Lusitano – “Instruir para construir” – serviu como primeiro mote. O resto veio dos contactos com o novo bairro. Apesar de ainda ser Alfama, esta é uma Alfama diferente, nota João, que identifica uma vivência mais comunitária e bairrista. “A receptividade que estamos a ter do pessoal dali é óptima. É incrível, com tão pouco tempo, nem nos conhecem e está a ser uma receptividade muito boa.” Foi a falar com os novos vizinhos – o prédio tem quatro andares, todos ocupados – que a direcção do clube percebeu que apostar na formação digital podia ser um bom caminho. “Há muita necessidade de integrar os idosos no mundo digital, que para eles ainda é muito obscuro”, diz João.

Mas o Lusitano não quer só que os velhinhos aprendam a mexer no e-mail, nos mapas e no e-factura. João Campos mostra-se entusiasmado com a possibilidade de programadores de código se juntarem para, por exemplo, criarem sites e aplicações para associações e outras entidades sem fins lucrativos. No fundo, resume, “tentar sair do nosso próprio espaço e vir para a rua, falar com o que está à volta”.

Essa vontade traduz-se ainda noutra iniciativa. O Lusitano quer “tentar criar uma união, uma voz comum, uma força” com outras colectividades, mais ou menos históricas, que pululam por Lisboa. “Para que não andem a mendigar às juntas para se manterem à tona”, clubes e associações devem unir-se e defender interesses comuns, defende João Campos. Os primeiros contactos já foram feitos, mas ainda é cedo para dados mais concretos.

Até porque, antes disso, os dirigentes do Lusitano ainda têm de se preocupar com a mudança para o novo espaço, com as pequenas obras necessárias, com a abertura – marcada para “o final de Agosto, início de Setembro” – e com a definição mais específica da programação lúdica. É para já certo que existirá um bar, como na anterior sede, mas os concertos e festas que deram a fama recente ao clube já não se vão poder realizar. O Lusitano continua aberto, ainda assim, a workshops, conferências, apresentações de livros e “um ou outro concerto acústico”.

Depois de tanto tempo de incerteza, o renascimento é caminho para se fazer caminhando. “Estamos entusiasmados. Vamos tentar construir as coisas com calma”, resume João Campos.

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