Museu de Aveiro dá mais visibilidade ao seu Cristo crucificado do séc. XV

Circuito dedicado a Facies Christi é apresentado no próximo dia 11. Peça escultórica destaca-se pelo facto de a aparência da face de Cristo mudar, consoante a posição do visitante perante a imagem

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Consoante a posição do visitante, a expressão da imagem muda de sorridente para triste Adriano Miranda

A câmara municipal de Aveiro apresenta-a como “uma das mais icónicas e relevantes peças escultóricas portuguesas”. Não só porque foi diante dela que a Princesa Santa Joana, padroeira da cidade, fez, em 1481, o seu voto particular e simples de castidade, mas também por ser uma peça datada dos princípios do século XV (gótica) e com uma característica singular: consoante a posição do visitante perante a imagem do Cristo crucificado, de um lado, o seu rosto aparenta estar sorridente, e, do outro, triste e com os olhos cerrados. A peça Facies Christi, instalada no Coro Alto do Museu de Aveiro-Santa Joana, vai ganhar novo destaque, a partir da próxima semana, com a criação de um roteiro devidamente identificado.

A visita “inaugural” está marcada  para o próximo dia 11, pelas 18h30 – será acompanhada de um apontamento musical e de uma conferência intitulada “O olhar de Cristo”, pelo historiador Anísio Franco. A partir desse dia, a peça Facies Christi passará, assim, a ganhar nova visibilidade junto dos visitantes do museu, com a criação deste roteiro que visa valorizar e promover “um bem histórico-cultural que passará a assumir o estatuto de ícone nacional com interesse turístico estratégico para Aveiro”, destaca Miguel Capão Filipe, vereador da cultura da autarquia aveirense.

Esta aposta na criação do roteiro de Facies Christi já mereceu uma nota positiva, nomeadamente por parte de monsenhor João Gaspar, da diocese de Aveiro e historiador com vários livros publicados. “É importante que as pessoas conheçam a história desta peça e o que ela representa”, considerou, em declarações ao PÚBLICO, recordando um episódio ocorrido “há uns 30 ou 40 anos”. “Uns espanhóis ligados à museologia estavam no museu de Aveiro diante da escultura a tirar notas e garantiram-me que conheciam dois Cristos parecidos, um na Catedral de Burgos e outro em Ourense”.

Peça já era procurada por alguns turistas

Ainda que só agora esteja a ser criado este roteiro específico, a verdade é que este Cristo crucificado já era procurado por alguns turistas. “Já tivemos visitantes que perguntavam especificamente por esta peça por terem visto uma referência a este Cristo no Guia Michelin”, revela José António Christo, director do Museu de Aveiro-Santa Joana. Também o facto de José Saramago se referir a esta peça, em Viagem a Portugal, como sendo “uma escultura importante”, terá ajudado a divulgar este Cristo crucificado junto do público em geral.

O director do museu aveirense não tem dúvidas de que este novo roteiro trará vantagens, não só no que diz respeito à afirmação e visibilidade da peça em si, mas também “no contexto da ligação do objecto à princesa Santa Joana”, figura central da unidade museológica – foi naquele espaço, ainda como Convento de Jesus, que a filha de D. Afonso V viveu em santidade. “Foi perante aquele Cristo que, Joana Princesa, impedida pelo seu pai e irmão de tomar votos de forma regular – porque ela poderia ter de ver a assumir o trono – deu a volta ao texto e fez votos secretos”, realça ainda José António Christo. 

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