Lisboa tem muita fruta. Vamos comê-la?

A Cozinha Popular da Mouraria lançou um projecto para aproveitar as árvores de fruto dos quintais e espaços públicos da cidade.

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O Muita Fruta propõe-se reunir um grupo de voluntários interessados em ajudar os donos de árvores de fruto a tratar delas Enric Vives-Rubio

A ilustradora Cristina Sampaio chega à Cozinha Popular da Mouraria, em Lisboa, com um saco cheio de limões enormes. Outros vizinhos trouxeram laranjas. Cheira a fruta a ser cozida com açúcar. É domingo e dia de apresentação do projecto Muita Fruta, uma ideia de Adriana Freire, da Cozinha Popular, à qual se juntaram outros parceiros, como o Colégio F3 (Food, Farming and Forestry) da Universidade de Lisboa e a associação Locals Approach.

Vieram vizinhos, cúmplices e curiosos para ver o que é o Muita Fruta, esta ideia de recolher a fruta que existe na cidade e aproveitá-la. Tudo parte de uma preocupação em combater o desperdício. Adriana começou a reparar na quantidade de árvores de fruto que existem nos espaços públicos de Lisboa mas, sobretudo, em pequenos quintais privados e na quantidade de fruta que se perde porque ninguém a apanha. Concorreu então com esta ideia ao programa Bip/Zip, da Câmara Municipal de Lisboa, e foi um dos projectos escolhidos para receber apoio.

O primeiro passo será fazer um levantamento e mapeamento de todas as árvores que existem na zona da Mouraria (para já o objectivo é cobrir as freguesias de Santa Maria Maior, São Vicente e Arroios, e no futuro alargar ao resto da cidade). A informação estará depois disponível numa plataforma online interactiva.

O primeiro quintal a ser mapeado foi precisamente o de Cristina Sampaio, que para além do limoeiro tem um diospireiro que, na época certa, fica carregado de dióspiros. Não é fácil, diz Adriana (e Cristina confirma) apanhar e distribuir todos os frutos por amigos e conhecidos. Por isso, o Muita Fruta propõe-se reunir um grupo de voluntários interessados em ajudar os donos de árvores de fruto a tratar delas.

Vai haver workshops práticos dados por Silvan, o responsável pela horta da Cozinha Popular, que começam já no dia 29 de Janeiro – o primeiro será para ensinar a podar, mas haverá outros, um mais voltado para os citrinos, por exemplo, outro para o combate às pragas, etc. Estão abertas as inscrições para os workshops e para voluntários para o projecto.

Os proprietários das árvores podem dar ou vender os frutos, ou trocá-los por um serviço de poda, e a Cozinha Popular está a criar uma Marca Social para comercializar o resultado da transformação. Quem esteve na apresentação já pôde levar para casa um frasco de polpada de laranja feita com laranjas, limões, cenouras, abóboras e açúcar e a respectiva receita.

O projecto permite também que se vá conhecendo a história de Lisboa através das árvores. No encontro de domingo estava também Luís Ribeiro, do Instituto Superior Técnico, que referiu a importância de cruzar este trabalho com outro: a identificação dos pontos de água na cidade.

Essa pesquisa que está já a ser feita em Alfama, localizando minas e nascentes, pode alargar-se à Mouraria, porque, disse, “há pontos de água abandonados, outros que desapareceram, mas alguns que ainda podem ser recuperados”. Existe, por exemplo, a hipótese da “reactivação de cisternas que podem ser usadas para recolha das águas da chuva”, aproveitando-as depois para a rega dos quintais. E assim, a pouco e pouco, árvore a árvore, quintal a quintal, Lisboa vai-se reencontrando com a sua natureza.

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