Kuduro, zumba e Raquel Tavares numa espécie de inauguração do Eixo Central

O fim das obras no centro de Lisboa é assinalado no domingo com concertos, aulas de dança e desporto. A oposição camarária acusa o executivo socialista de eleitoralismo.

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O Saldanha tem passeios mais largos e novos bancos PÚBLICO

Sem discursos, sem corte de fitas, sem carros. Há pouco de tradicional na inauguração que a câmara escolheu para assinalar o fim das obras no chamado Eixo Central. No domingo, entre as 10h e as 17h, em vez de automóveis haverá dança, concertos, selfies e jogos tradicionais nas renovadas praças de Picoas e Saldanha.

Raquel Tavares é o nome mais sonante da iniciativa “A Rua é sua”, que vai cortar o trânsito a partir das 6h entre as avenidas Tomás Ribeiro e João Crisóstomo. A fadista actua no Saldanha às 15h20, depois de espectáculos do Dixie Gang e do Cais do Sodré Funk Connection. A música na praça começa à uma da tarde com um concerto da Banda da Carris. De manhã haverá aulas de tai-chi e zumba.

O kuduro toma conta das Picoas a partir das 12h15, mas as aulas de dança começam às 10h. Às 13h haverá concerto do septeto do Hot Clube de Portugal e, antes das três, começa a actuação dos brasileiros Raspa de Tacho. A par disto, a autarquia promete bancas de artesanato e de comida de rua, uma “marcha da acessibilidade”, jogos tradicionais, aulas de bicicleta, selfies com figuras de Bordalo Pinheiro e animação do Chapitô, da Kumpania Algazarra e dos Toca a Rufar, entre outros. “Mesmo com frio, os lisboetas estão convidados a trazer as suas bicicletas, skates ou patins”, transmitiu a câmara municipal num comunicado de imprensa.

Quem torce o nariz à festa é a oposição de direita. Para António Prôa, vereador do PSD, este é “o momento em que Medina inaugura a campanha eleitoral para as eleições autárquicas deste ano”. O social-democrata considera que a “festa no Eixo Central torna inequívoco que o que moveu Fernando Medina” ao lançar as obras na capital foi “exclusivamente o seu próprio interesse eleitoral”.

O eleito do CDS assume posição semelhante ao classificar a iniciativa como uma “acção de propaganda paga por todos os lisboetas”. João Gonçalves Pereira fala de um “circo montado” e até compara o que vai acontecer no domingo aos “ tempos da festa socialista dos governos de José Sócrates, de tão má memória para todos”.

Carlos Moura, vereador do PCP, considera que a realização da iniciativa é “uma opção legítima” da câmara e alerta para “situações mais graves e preocupantes”. Uma delas, exemplificou ao PÚBLICO, é o estacionamento indevido em cima dos novos e largos passeios da Avenida da República e a danificação de pilaretes. “Se os passeios foram alargados para o usufruto da população, não foi para que os automóveis estacionem ali”, disse.

"Senhor do Adeus" lembrado no Saldanha

Nem só de ciclovias, passeios e árvores se fez a nova Praça Duque de Saldanha. Junto ao Monumental existe agora uma homenagem ao “Senhor do Adeus”, o homem que durante anos acenou aos automobilistas  que passavam naquele local. Trata-se de uma pedra circular com duas pegadas para que as pessoas possam dizer adeus aos carros como João Manuel Serra fazia, explica ao PÚBLICO Filipe Melo, de quem partiu a ideia da criação da escultura. “Nós começámos a chatear a câmara municipal para fazer uma homenagem”, diz o realizador, que todos os domingos ia ao cinema com João Serra e com quem desenvolveu uma relação de amizade que durou sete anos.

A proposta, da autoria do escultor José Aurélio, foi tão bem acolhida na autarquia que surpreendeu o próprio Filipe Melo. “Não é fácil estar a gastar dinheiro numa homenagem a uma pessoa que a maior parte das pessoas não sabia o que fazia”, admite. Mas destaca que João Serra era “profundamente lisboeta” e que “mais do que um tributo àquela pessoa, este é um tributo ao que ele queria representar”. À interacção entre as pessoas, à luta contra a solidão, de que o próprio “Senhor do Adeus” sofria.

No domingo à noite, pelas nove e meia, Filipe Melo vai para o Saldanha imitar o gesto do “Senhor do Adeus” e espera que mais gente se junte. “Gostava que acontecesse o que aconteceu quando ele morreu, aquela manifestação espontânea de homenagem”. João Serra morreu em Novembro de 2010, aos 80 anos. Dezenas de pessoas juntaram-se então para lembrar a sua memória.

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