Junta de Lisboa abre supermercado social onde a moeda são “santos antónios”

A freguesia de Santo António quer que o apoio dado aos mais vulneráveis não lhes retire dignidade, antes lhes dê poder de escolha.

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Aspecto de uma eventual nota de 20 "santos antónios" Junta de Freguesia de Santo António

Porque a “solidariedade tem de rimar com dignidade”, a junta de Freguesia de Santo António, no centro de Lisboa, vai abrir um supermercado social onde os utentes, em vez de receberem cabazes com o que outros decidiram que iriam comer, escolhem o que querem. A cada um será atribuído um determinado número de “santos antónios” – a moeda virtual criada para esta iniciativa - para gastar no que entender.

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“Temos de devolver a dignidade às pessoas, mas parece que ainda estamos no tempo da sopa dos pobres, do Sidónio”, diz Vasco Morgado, presidente da junta, referindo-se à iniciativa do Presidente da República Sidónio Pais, em 1918, e que ainda hoje vinga. “Não queremos deixar de apoiar mas as pessoas têm de ter o poder de escolha”, acrescenta.<_o3a_p>

Assim, a cada família carenciada referenciada pela junta, será atribuído um crédito definido pela técnica de apoio social, que será carregado num cartão electrónico. Porém, entre as 1000 pessoas das 360 famílias abrangidas, mais de um quarto são idosos. Por isso, haverá também “santos antónios” em papel para que mesmo aqueles que não se dão bem com as novas tecnologias não se sintam excluídos.<_o3a_p>

Mas como funcionará? “Vou dar um exemplo, embora os valores não estejam fechados: é atribuído um crédito de 150 ‘santos antónios’ a uma família. Esta depois poderá escolher comprar um pacote de arroz, que custa um ‘santo antónio’, ou de massa, que custa meio, e acrescentar fraldas, que custam dois”, explica o autarca. <_o3a_p>

A existência de produtos como as fraldas nas prateleiras do supermercado é outra das novidades da iniciativa. “O apoio social está confinado à comida, não dá dignidade à pessoa, não tem em conta o aspecto psicológico, por isso vamos ter no supermercado outros produtos como carrinhos de bebé, brinquedos e até mesmo roupa”. Para que um pai, por exemplo, apesar das dificuldades que passa, não deixe de poder dar uma pequena alegria ao seu filho “para que ele se sinta bem, para que não sinta tanto o que o pai sente”, diz Vasco Morgado.<_o3a_p>

Este supermercado não estará apenas aberto às famílias carenciadas existentes na freguesia mas também a outras, de classe média, que por vezes passam por dificuldades. “Existe uma linha abaixo da qual uma pessoa tem todas as ajudas, seja das autarquias, seja da Santa Casa, seja da Segurança Social. Mas há casos em que, por dez euros, já não têm direito a quase nada e vivem numa luta tremenda para manter a cabeça de fora. E muitas vezes, essas famílias só precisam de apoio algumas vezes, para algumas coisas e devem ter direito a recebê-los”, defende o autarca.<_o3a_p>

Mas como identificar estas famílias? “Pode-se fazer a triagem pelo IRS mas nesta freguesia há o factor bairro, há muito cruzamento de informação porque as pessoas se conhecem, sabem por que dificuldades os outros estão a passar, e nós queremos ajudar”. Vasco Morgado dá o exemplo daqueles meses mais complicados, em que se pagaram os seguros ou se comprou material escolar. “As famílias ficam aflitas e é nessa altura que é necessário dar um apoio provisório”.<_o3a_p>

As prateleiras do supermercado serão preenchidas com a doação dos comerciantes da zona “ou de todos os que queiram contribuir”, sublinha o presidente da junta. Já era assim, ao abrigo da lei do mecenato, que funcionavam os cabazes alimentares distribuídos à população mais vulnerável. A roupa, os brinquedos ou as cadeirinhas de bebé serão doados por instituições ou por quem assim o entender. Até pode haver um sistema de trocas: quem quiser o carrinho pode deixar o ovo onde o bebé andou até aí. <_o3a_p>

Além destes apoios, houve ainda que pensar no espaço. A abertura do supermercado, previsto para o primeiro trimestre deste ano, obrigou à realização de obras no pólo de atendimento de S. José, na Calçada Moinho de Vento, perto do Jardim do Torel, assim como a criação de todo um sistema tecnológico assente na nova moeda. O investimento foi conseguido com patrocínios, que se querem manter, por enquanto, anónimos. “Todos podem contribuir porque é importante que sintamos que cuidamos dos nossos”.

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