Hotel na escarpa de Gaia ainda sem projecto aprovado

Empresário Mário Ferreira, município e Direcção Regional de Cultura continuam a discutir volumetrias do empreendimento.

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O projecto aproveita a antiga ruína de uma fábrica de cerâmica, na escarpa Fernando Veludo/NFactos

O vice-presidente da Câmara de Gaia explicou, esta segunda-feira, que a intenção de investimento do empresário Mário Ferreira na antiga fábrica de cerâmica do Senhor do Além, na escarpa do Douro, ainda não tem um projecto aprovado. Segundo Patrocínio de Azevedo, neste momento, o promotor, a autarquia e a Direcção Regional de Cultura do Norte ainda estão a discutir as volumetrias do empreendimento que prevê 85 quartos e 11 apartamentos. A primeira versão foi chumbada em Julho.

O tema foi alvo de discussão no período antes da ordem do dia da reunião de Câmara de Gaia, a que faltou, por motivos de agenda, o presidente Eduardo Vítor Rodrigues. Patrocínio de Azevedo envolveu-se numa acesa (e rara) troca de argumentos com o vereador social-democrata Firmino Pereira, que questionou se o volume para onde estão previstos os 11 apartamentos (nas traseiras do futuro hotel, e com uma cércea mais elevada, nos primeiros desenhos tornados públicos), cumpre o Plano Director Municipal.

Mário Ferreira alimentou a expectativa de ter este projecto aprovado ainda a tempo de se candidatar, até ao final de Setembro, a fundos comunitários para a área do turismo, mas a obrigatória intervenção da DRCN, que avalia o impacto da obra por esta se situar na área de protecção ao Mosteiro da Serra do Pilar, acabou por deitar por terra essa expectativa. Segundo Patrocínio de Azevedo, o problema não está na volumetria total do empreendimento mas na distribuição dessa volumetria pelos vários elementos do projecto.

Firmino Pereira considera que se for aprovado alguma coisa de semelhante ao que foi divulgado pela imprensa, a escarpa ficará com um “mamarracho” nas imediações de uma zona classificada. O vice-presidente da câmara pediu-lhe que não confundisse imagens preliminares com o “processo urbanístico” ainda em curso, mas questionou a preocupação do social-democrata com aquele projecto e a forma como, nos mandatos de Luís Filipe Menezes, apoiou as construções previstas para a marginal ribeirinha, na zona onde se tem realizado o festival Marés Vivas.

O autarca do PSD argumentou que dada a estreiteza do canal do Douro naquele ponto da Serra do Pilar, quando comparada com a largura do canal fluvial da zona mais a jusante, o impacto de construções num e noutro local é diferente. Curiosamente, numa curta declaração ao PÚBLICO a 1 de Agosto, o director regional de Cultura, António Ponte, explicou que as reuniões entre as partes visam encontrar uma solução “que tenha em conta não apenas o impacto da obra na escarpa e no monumento próximo, mas em todo o contexto das ribeiras do Porto e de Gaia”, de onde o hotel vai ser visível.

Mário Ferreira tem apontado baterias para Gaia, onde comprou antigos armazéns da Real Companhia Velha, no Centro Histórico, para ali construir outra unidade hoteleira. Este investimento enquadra-se na estratégia para esta zona nobre da cidade, delimitada por uma área de reabilitação urbana (ARU), cujo documento operacional foi aprovado nesta reunião de Câmara. Em dez anos, o município prevê investimentos de 210 milhões de euros na reabilitação daquele edificado, 180 milhões dos quais por parte de privados. Esta terça-feira o município apresenta os investimentos mais importantes numa sessão com o primeiro-ministro, António Costa.

A reunião de Câmara desta segunda-feira ficou também marcada pela aprovação de uma proposta para criação de zonas e de um horário para cargas e descargas na Avenida da República – onde neste momento a paragem em alguns pontos torna impossível a fluidez do trânsito. O vice-presidente da Câmara concordou, nesta questão, com Firmino Pereira (que se absteve) quanto à necessidade de fazer acompanhar esta medida de maior fiscalização por parte da polícia municipal.

Também junto à rotunda de Santo Ovídeo, onde termina a linha de metro, o município vai fazer algumas alterações para favorecer o trânsito automóvel. As paragens de autocarro existentes vão roubar espaço aos passeios, para benefício da fluidez de tráfego, e vão ser colocados semáforos para controlar o fluxo de peões que, em momentos de chegada do metro à estação ali existente, formam longas filas a atravessar a estrada, explicou o vice-presidente. As medidas serão experimentais, adiantou ainda Patrocínio de Azevedo, abrindo portas a algumas alterações, caso se entenda que elas são necessárias.

A Câmara de Gaia vai passar a ter em algumas zonas da cidade bolsas para estacionamento de comerciantes, que poderão adquirir um cartão, com um custo anual de 120 euros. No regulamento do estacionamento de duração limitada, o município previa apenas o cartão de morador – que custa cerca de 24 euros por ano – mas nesta reunião foi aprovada uma alteração às normas que alarga esta prerrogativa aos lojistas e outro tipo de serviços de interesse público. “Isto custará menos de um café por dia", argumentou o vice-presidente da Câmara quando confrontado com um reparo do vereador do PSD, Firmino Pereira, que pedia uma revisão, em baixa, do valor a pagar. 

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