Hospitais de Coimbra vão ter mais estacionamento mas este pode não chegar

Silo automóvel deve ficar pronto no final de 2018 e tem um custo de 20 milhões de euros. Académicos consideram que esta solução não resolve o problema até porque se continua a apostar no uso do automóvel.

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SERGIO AZENHA

A construção de um silo de estacionamento nos Hospitais da Universidade de Coimbra, uma ideia já antiga, vai avançar e deve estar pronta em Dezembro de 2018.

A nova estrutura anunciada nesta quarta-feira pela administração do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) insere-se num projecto que custa 20 milhões de euros e vai duplicar a actual capacidade de estacionamento, que é de 1240 lugares. O edifício de quatro pisos e 6500 metros quadrados de superfície vai ter acesso aos HUC através de uma ponte pedonal com um tapete rolante.

A empreitada resulta de uma parceria entre o CHUC e o Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH), uma associação de direito privado, e não recorre a fundos do Orçamento do Estado. Nos 20 milhões estão também incluídas intervenções no estacionamento existente, bem como requalificação no Hospital dos Covões e no Pediátrico.  

Apesar da proximidade ao Pólo III da Universidade de Coimbra (que tem também problemas de estacionamento), a construção do silo tem como propósito servir apenas o maior centro hospitalar e universitário do país

Uma solução que precisa de alternativas

Um plano director do Hospital, apresentado em 2010, envolvia a construção de um silo e o Metro Mondego, projecto estagnado deste 2011, fazia também menção a uma estrutura de estacionamento de automóveis. Nenhum deles chegou a avançar. Os hospitais têm um problema crónico de estacionamento e, de acordo com os académicos ouvidos pelo PÚBLICO, o silo pode não suficiente para acabar com ele.

O investigador da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, João Pedro Ferreira, considera que a criação de um silo dentro dos HUC “é um convite para que as pessoas persistam em entrar com o seu carro neste espaço” em vez de “privilegiar outras formas de mobilidade”.

“Parece-me que é absolutamente escusado e que corresponde a uma política errada”, considera o investigador que em 2011 estudou o problema do estacionamento naquela zona da cidade. O académico estima que cerca de oito mil pessoas se desloquem ali diariamente em trabalho, para consultas ou em acompanhamento de utentes. Analisando os números profissionais e de consultas dos HUC “rapidamente chegamos à conclusão que esse estacionamento continuará ser insuficiente”.

A afluência de mais carros no hospital, “não sendo acompanhada de mudanças substanciais aos canais de entrada”, pode representar um problema. João Pedro Ferreira nota que os automóveis, “em larga medida, entram pelas mesmas vias de acesso que as ambulâncias”.

Álvaro Maia Seco, docente no Departamento de Engenharia Civil da UC, refere que a utilidade da construção de um parque de estacionamento “depende da política de mobilidade que se pretende para o local”.

O professor especializado em urbanismo e transportes afirma que “neste momento a oferta do lugar é altamente deficitária” e que é preciso haver “uma aposta de meios alternativos de chegar ao hospital”.

O projecto do Sistema Mobilidade do Mondego previa a construção de uma linha que fazia a ligação entre os hospitais e a Baixa de Coimbra, mas o governo ainda está para decidir o futuro da obra.

O silo “é uma solução antiga que não está nos padrões modernos”, entende João Pedro Ferreira. O académico defende pois o movimento inverso: “Devia-se procurar deslocar uma parte substancial” dos automóveis. A solução teria que ser articulada com a autarquia, passando pela construção de estacionamentos em zonas mais periféricas, apostando no reforço dos transportes públicos a fazer a ligação.

Estacionamento pago

Apesar de o estacionamento no silo ser pago, vai ser criado um tarifário social. O presidente do Conselho de Administração do SUCH, Paulo Sousa, destacou na apresentação que este será um projecto com partilha de receita entre o CHUC e o SUCH.

João Pedro Ferreira sustenta que este aspecto pode aumentar a pressão nas zonas circundantes, como Celas e na Circular Interna, “se nada for feito” e que, dependendo do preço, “pode levar à intensificação do trânsito” no hospital.

Maia Seco considera igualmente que, sendo o parque pago, terão que ser tomadas “medidas complementares nos estacionamentos oferecidos na envolvente” e fala também da necessidade de articular a estratégia com o município.

O docente do DEC fala ainda da necessidade de controlar as tarifas cobradas e de evitar “uma lógica puramente financeira” de exploração. “Os utentes não têm obrigação de pagar pelas deficiências do sistema”, defende. Com Lusa

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