Há golfinhos à vista no Norte, mas não vieram para ficar

Durante esta semana, alguns banhistas partilharam imagens do grupo de golfinhos a passear na costa de algumas praias do Norte do país. No entanto, as autoridades e especialistas dizem que o fenómeno é normal.

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O grupo é da mesma sub-espécie que os golfinhos residentes no estuário do Sado Bruno Lisita

Os banhistas do distrito do Porto têm procurado mais do que um mergulho no horizonte marítimo durante os últimos dias. No início desta semana começaram a circular algumas fotografias e vídeos nas redes sociais que mostram um grupo de golfinhos a passar a uma distância muito próxima da costa. Mas estamos perante um fenómeno de novos inquilinos no litoral Norte do país? Para já ainda não existem elementos que o sustentem, apesar de várias pessoas se mostrarem surpreendidas pelo fenómeno.

Os testemunhos chegam de alguns comerciantes locais, como é o caso de Nuno Gonçalves, da escola de surf Litoral de Vila do Conde, e que relata um aumento de avistamentos face a anos anteriores.

Ao PÚBLICO, Nuno Sequeira, biólogo e dirigente da Quercus, conta que se trata de um grupo de golfinhos-roazes (Tursiops truncatus), da mesma sub-espécie residente no estuário do Sado, com cerca de dez indivíduos.

No entanto, apesar dos relatos entusiasmados dos banhistas nas redes sociais, Catarina Eira, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, disse ao PÚBLICO que não existem dados que sustentem que se trata de uma situação “fora do comum”.

Para a investigadora, as aproximações estão ligadas ao ciclo de vida dos animais, uma vez que foram avistadas algumas crias no grupo e “é mais fácil que os grupos sigam as suas presas para zonas mais próximas da costa”. “Estes animais deslocam-se centenas de quilómetros num dia só e por isso não os podemos associar a pontos tao específicos da costa”, acrescenta. “Um animal que está aqui agora pode estar na Galiza daqui a duas horas”, exemplifica.

No entanto, este avistamento não deixa de ser “um bom sinal”, considera, Nuno Sequeira. Para o biólogo, o fenómeno “mostra que estamos no bom caminho no trabalho dedicado à qualidade do ambiente marítimo”.

Nuno Sequeira confessa esperar que “estes avistamentos se tornam mais vulgares”, vendo benefícios na promoção da zona como uma zona de excelência ecológica. O biólogo sublinha no entanto a necessidade de pensar sobre regulamentações que protejam os grupos de golfinhos, caso a sua presença se venha a confirmar mais frequente, de forma a os proteger de situações de pesca acidental ou afectação através da navegação marítima, por exemplo, e para que se evite o seu desaparecimento por perturbação.

A bióloga admite um possível aumento do alimento disponível nas águas entre Leça da Palmeira e Vila do Conde, por exemplo. Não obstante, a investigadora destaca que para se conseguir assumir que existe uma alteração no comportamento destes animais e da sua relação com a qualidade do ambiente marítimo, é necessário “mais tempo” e analisar primeiro os comportamentos dos crustáceos e não “dos grandes predadores”, onde se inserem estes mamíferos.

À Lusa o comandante da Zona Marítima do Norte, Teixeira Pereira, concordou com a normalidade do fenómeno e reconheceu não haver um registo dos avistamentos, excepto quando envolvem acidentes ou quando os animais dão à costa. O oficial afirmou também que as condições do mar no Norte têm estado "muito favoráveis, com pouca agitação marítima", o que faz com que seja "mais visível os animais virem à tona".

Também Catarina Eira elogiou a postura da população, que se manteve afastada e não interferiu com a passagem dos golfinhos e acrescentou que os pescadores já estão alertados para os comportamentos a tomar neste tipo de fenómenos, até porque as perdas económicas também são fortes do seu lado e “foi feito um grande esforço de sensibilização num passado recente”. 

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