Guimarães garante acesso público a torre medieval, depois de não a ter comprado

Estrutura que ostenta a inscrição “Aqui Nasceu Portugal” foi transacionada entre privados, em 2014, por 190 mil euros. Autarquia não quis exercer direito de preferência.

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A câmara não exerceu o direito legal de preferência que lhe assiste neste tipo de imóveis MANUEL ROBERTO

A torre medieval de Guimarães onde está inscrita a expressão “Aqui Nasceu Portugal” vai passar a ser acessível a visitantes, assim que esteja concluído um projecto de recuperação do seu interior. A garantia foi dada esta quinta-feira pelo vereador da Cultura, José Bastos, e surgiu um dia depois de ter vindo a público que a estrutura tinha sido transaccionada entre privados, há dois anos, por 190 mil euros. Na altura, a autarquia não exerceu o direito de opção que tinha sobre o espaço. O acordo agora alcançado permite que, mesmo que a propriedade continue a ser privada, vai estar aberta ao público.

“Estou em condições de poder dizer que está garantido o acesso público à torre da Alfândega”, afirmou Bastos. Dentro da muralha funcionou, durante os anos 1980, um bar e existe ainda um salão de jogos. O novo proprietário do espaço apresentou uma ideia para a recuperação total do interior da estrutura medieval, fazendo todo o investimento, mas aceitou tornar o espaço do topo da muralha acessível ao público. “Conseguimos o objectivo essencial”, valoriza o vereador vimaranense.

A venda da torre da Alfândega foi tornada pública nesta quarta-feira pelo vereador da CDU Torcato Ribeiro, na reunião do executivo municipal. O prédio, na qual também está integrada parte do histórico café Milenário, era propriedade de uma família local que, em Agosto de 2014, vendeu a parcela, por 193 mil euros, ao empresário Domingos Machado Mendes.

As autarquias têm um direito legal de preferência nas transacções de prédios classificados ou situados em áreas classificada, como é o caso do centro histórico de Guimarães. Só que, de acordo com a escritura desta transacção, a câmara não exerceu esse direito. “Com a informação disponível, fizemos aquilo que devíamos fazer”, justifica José Bastos. A informação que deu entrada na câmara nessa altura dizia respeito a um prédio na rua Avelino Germano e a autarquia tinha sinalizado como prioritário um outro edifício, no número 33 da rua do Anjo, através do qual se faz o acesso à torre.

“Ainda hoje, não conseguimos apurar a quem pertence esse número 33”, garante o vereador da maioria socialista que lidera a câmara de Guimarães. Já o eleito da CDU, Torcato Ribeiro, não tem dúvidas de que o proprietário “está bem identificado” e é Domingos Machado Mendes. Mesmo que haja dúvidas sobre a propriedade da entrada na torre medieval, é a este empresário que agora pertence o interior da estrutura. “Perdeu-se uma oportunidade para devolver a torre ao domínio público”, lamenta.

O acesso público à torre da Alfândega fazia parte do projecto de requalificação do largo do Toural, desenvolvido pela escola de Arquitectura da Universidade do Minho e concluído em 2011, em vésperas da Guimarães – Capital Europeia da Cultura. Dois anos depois, Miguel Bastos, um engenheiro fascinado pela estrutura de defesa da cidade, propôs a mesma ideia, no Orçamento Participativo, defendendo também a criação de um percurso de visita dos troços ainda existentes da muralha da cidade.

A autarquia anunciou, esta quinta-feira, que está a ultimar um projecto que vai permitir a circulação pública, a pé e em segurança, no topo do troço da muralha existente na avenida Alberto Sampaio. O percurso será feito pelo adrave, o caminho de ronda junto às ameias, entre a entrada lateral da Câmara Municipal e o Museu de Alberto Sampaio, atravessando também uma parte do terreno da Colegiada da Oliveira.

Este circuito terá 250 metros de extensão e será feito através de uma estrutura de madeira. No pavimento, será gravado o nome das torres anteriormente existentes. A autarquia apresenta esta iniciativa como uma forma de “interpretar melhor o que foi o sistema defensivo, além de perpetuar a sua memória”.

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