Governo falta à inauguração do último troço da Via do Infante

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A tenda foi desmontada antes da cerimónia de inauguração Nuno Jesus/PÚBLICO

O último troço da Via de Infante, entre Lagoa a Lagos, numa distância de cerca de cerca de 38 quilómetros, terá aberto ontem à noite ao público sem ministros e sem qualquer cerimónia inaugural, deixando estupefactos os utentes e os autarcas.

O presidente da Associação de Municípios do Algarve (Amal), Macário Correia, manifestou-se “muito triste, do ponto de vista político”, pela forma como o Governo “tratou uma obra emblemática” para a região. O líder dos autarcas algarvios recordou a abertura do último troço da Auto-Estrada do Sul (A2), no Verão passado, que também não teve direito a festa de inauguração, mas por razões que considerou compreensíveis — a morte de dois operários, na véspera da abertura ao tráfego. “Agora, o motivo parece ser a existência de um sobrinho na Suíça”, ironizou.

A mudança do ministro das Obras Públicas parece ter baralhado todo o protocolo. A primeira informação que ontem foi avançada dava conta de um cerimónia habitual nestas circunstâncias, mas sem membros do Governo. Mais tarde, a Euroscut, empresa concessionária da Via do Infante, também designada por A22, desculpou-se e anunciou o cancelamento da cerimónia. Ao mesmo tempo foram dadas ordens para mandar desmontar a tenda para a festa, instalada no nó de acesso a Silves. Segundo Macário Correia, o que fica para a história “é a triste imagem do desarmar da tenda, sem ter havido festa”.

O autarca do PSD lembrou que os algarvios andaram décadas a reivindicar para terem esta estrada, mas quando chegou o dia da inauguração, sublinhou, “nem houve uma explicação plausível para a falta de comparência do Governo”. Macário Correia revelou que, antes da recente remodelação governamental, tinha acertado todos os pormenores para que houvesse uma cerimónia, à semelhança das registadas na inauguração dos outros troços da via, quando Cavaco Silva era primeiro-ministro. O autarca disse ter feito “variadíssimos telefonemas” para o gabinete do novo ministro das Obras Públicas, Carmona Rodrigues, mas “por dificuldades de agenda não foi possível” ter a presença do governante na inauguração.

O líder do PS/Algarve, Miguel Freitas, interpretou a ausência do Governo como uma recusa em dar resposta aos algarvios”. “Vai ou não haver portagens?”, interrogou, em conferência de imprensa, prometendo luta renhida para o caso de a resposta ser que sim. É que, sublinhou, a Estrada Regional 125, conhecida pelos seus altos índices de sinistralidade, “não é mais do que uma marginal do litoral algarvio, não constituindo por isso alternativa à Via do Infante”.

“Julgo que essa matéria está enterrada. Quem o disse já lá não está”, disse, por seu lado, Macário Correia, a propósito das portagens prometidas pelo antigo ministro Valente de Oliveira.

Ao final da tarde de ontem, o gabinete do governador civil de Faro ainda não tinha informações definitivas sobre a abertura do troço Lagoa- Lagos da Via do Infante: “A Euroscut informou que, possivelmente, abre esta noite”. Mais tarde, chegou a confirmação que a abertura ao tráfego se daria às 22h00.

Por outro lado, o presidente da Câmara de Lagos, Júlio Barroso, apesar de confessar existir “uma certa confusão” sobre o assunto, garantia que “irá manter a festa, que desde há muito tempo está anunciada”. Na falta de comparência do Governo, disse que convidou todos os representantes da Administração Central na região e os presidentes de câmara para “participarem numa cerimónia”.

Integrado no programa dos festejos, o encenador Hélder Costa preparou uma representação teatral, onde a figura do Infante D. Henrique, que deu o nome à estrada, surge a receber a “corte” de convidados. Para os 500 primeiros automobilistas que hoje circulem pela nova via, Júlio Barroso tinha reservado um certificado e uma lembrança. Mas, depois da confusão da abertura da via, que deveria acontecer hoje, mas foi antecipada para a noite de ontem, confessou: “Não sei como será feito.” ¦

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