Para celebrar a velha aliança, Londres recebe oliveira secular

Vereador português eleito pelo Partido Trabalhista no município londrino de Lambeth quer replantar a “Árvore da Aliança” que simbolize o Tratado de Windsor em tempo de "Brexit".

Oliveiras milenares
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Oliveiras milenares DR
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Preocupado com a “instabilidade social” que admite poder vir a ser possível com a saída da Inglaterra da União Europeia, o vereador português Guilherme Rosa, de 40 anos, eleito nas últimas eleições autárquicas inglesas, em 2014, pelo Partido Trabalhista no círculo eleitoral londrino de Lambeth, quer evocar o Tratado de Windsor através da replantação de uma oliveira com quase mil anos numa praça de Londres.

Com este “gesto simbólico”, o autarca português explicou ao PÚBLICO que procura “apaziguar as consequências do ‘Brexit’” para os mais de 35 mil portugueses que residem no município de Lambeth, no Sul de Londres. Diz pretender recordar aos ingleses que a ligação do seu país à Europa já acontece desde 1373, com a aliança luso-britânica assinada entre o rei Eduardo III de Inglaterra e D. Fernando de Portugal, frisando que o tratado “funcionou sempre em momentos de crise.” E a melhor maneira que encontrou para recordar a “amizade entre os dois povos” foi a replantação de uma oliveira secular com idade próxima à da assinatura do tratado luso-britânico, na praça fronteira ao edifício do novo município de Lambeth. A “‘Árvore da Aliança’ ficará devidamente protegida contra as intempéries”, para contrariar os críticos que consideram o transplante de uma árvore com idade próxima dos mil anos “um crime contra o ambiente.”

O autarca português em Londres confessou ao PÚBLICO ter ficado “desconfortado” com o teor de algumas observações que têm sido feitas contra a sua proposta, lembrando as árvores seculares e milenares que são arrancadas para serem queimadas nas várias regiões do país onde ainda prevalece o olival tradicional, para dar lugar ao modelo de cultura intensivo e superintensivo.

A ideia de levar um exemplar para Londres surgiu-lhe depois de ter observado a oliveira do Mouchão, durante uma visita que recentemente fez à aldeia de Mouriscas, no concelho de Abrantes. Esta está classificada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Floresta como a oliveira mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Europa, com cerca de 3350 anos.

Logo que regressou à capital britânica, colocou no Facebook a seguinte mensagem: “Concorda e apoia que seja transplantada uma oliveira (talvez milenar) mais antiga que o Tratado de Windsor (650 anos), de Portugal para Lambeth, como símbolo da amizade entre os nossos povos?”

A sua iniciativa chegou ao conhecimento dos “amigos das oliveiras históricas de Mouriscas”, que vislumbraram “uma mais-valia que daria visibilidade a todo o concelho de Abrantes, ao olival mourisquense e, ao mesmo tempo, contribuiria para a preservação das oliveiras milenares”, explicou Guilherme Rosa, que tem raízes familiares em Tomar. A proposta do autarca português recolheu apoio junto dos seus pares no executivo do município de Lambeth e o desenvolvimento do processo está em curso.     

O debate que a proposta entretanto gerou nas redes sociais teve, porém, origem num logro: que se pretendia levar para Londres a oliveira mais antiga de Portugal. Mas Guilherme Rosa garantiu que “seria uma irmã mais nova, secular (com idade próxima à do Tratado de Windsor), sendo que seriam sempre os mourisquenses a ter a “última palavra” neste projecto.   

Para além da mensagem que pretende transmitir aos ingleses, que “gostam muito de azeite e de azeitonas”, o vereador português quer projectar junto dos mais de 35 mil portugueses que residem em Lambeth, e dos cerca de 150 mil que vivem, trabalham e estudam na capital londrina, o “esforço cívico” da comunidade de Mouriscas que se “uniu” para “salvar a sua oliveira”. E um dos alvos desta iniciativa são as 40 escolas do município de Lambeth que são frequentadas por mais de 3500 crianças filhas de portugueses, para “ajudar aqueles que continuam a revelar problemas de integração” num contexto que se adivinha “conturbado” resultante do “Brexit”, admite, apreensivo, Guilherme Rosa.     

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